Destino - pt. 1
John William Waterhouse (1849 - 1917)
"Destino" (1900)
68,5 x 55 cm; óleo sobre tela
Uma das enormes vantagens deste estaminé, é que, por alguma razão insondável, o gajo que rabisca isto acha sinceramente que tem algo para dizer e que a malta vai ler, e isso fá-lo sentir-se melhor. Isso não é nada negligenciável, tendo em conta que um dos defeitos do gajo é ser razoavelmente optimista e que não é nada fácil fazer um maluco desses sentir-se melhor. A outra, é que é gratuito (frequentemente na verdadeira acepção da palavra, eu sei), e só faz click e lê quem quiser. Ou seja, por estes lados, cada um(a) é senhor(a) do seu destino."Destino" (1900)
68,5 x 55 cm; óleo sobre tela
E assim, chegamos ao ponto D da coisa: o destino.
Como se alguém estivesse minimamente interesasado nisso, o asterisco vai explicar o que acha sobre o destino. Ou, como o tradicional miserabilismo luso também lhe chama, o fado. Fado, é uma espécie de destino, só que é mais fodido*. É um destino que já se sabe que não augura nada de bom. Enquanto que o destino de um inglês, a existir, será tomar um chá com scones e doce de laranja amarga às 17.30h, o destino dum tuga é ser atropelado ao ir levantar o EuroMilhões à Santa Casa. É fado, e não há nada a fazer.
Mas não era intenção minha chatear a malta com as diferenças entre os outros e nós, que isso estamos fartinhos de saber - para além de sermos como somos, ainda fazemos gala disso, o que nos torna ainda mais um pouco miserabilistas (e assim inventamos palavras como "fado", "saudade" e "desenrascanço"). Mas adiante.
O que é mesmo importante (acho eu, nesta permanente ilusão de que alguém quer, de facto, saber), é que o destino, essa meta pré-definida, é uma ganda tanga. Não acredito, recuso-me. O destino é o que tu fazes. Não acho que quando tomamos uma decisão, esta já terá sido pré-definida e que, mesmo quando mudamos de opinião à última hora, haja alguém a pensar "Pffff. Já sabia.".
É que aí é que está o busílis da questão. Se existe o destino, alguém teve de o definir. E isso, epá, não faz o meu género. Se acreditasse no destino, teria de acreditar numa série de coisas que não gramo, tipo, nalguém que acha que deixar o filho morrer trará algum benefício para alguém e que é todo peace and love mas depois "deixa-me lá acabar com os primogénitos destes gajos" e coisas do género.
E, lá está: como é que um gajo consegue ser optimista se acredita em coisas dessas? Eu, pelo menos, não. Prefiro achar que faço os disparates porque sou burro, a acreditar que os faço porque até não sou completamente atrasado mental, mas alguém me cortou as vazas à nascença.
Só acredito num destino, que é o fim. Quando fechar os olhinhos, daqui a muito, muito tempo, acabou. Nada de luzes brilhantes e tretas do género. A última energia que me restar, em forma de corpinho enrugado, vai todinha para fazer crescer minhocas mais fortes e gordas.
E esse, é o fado. Eu disse fado? Ora bolas. Afinal ele existe.
P.S.: As cabecinhas claras que por alguma razão obscura não desistiram de ler este post, certamente notaram que o título tem um "- pt. 1" em apêndice. Ah, poizé. Ainda não se livraram disto. Para um destes dias, mais um post sobre o refúgio confortável no qual a malta às vezes se gosta de enroscar, chamado de destino. Nessa vez sob forma de "horóscopo", que nada mais é, parece, do que uma oportunidade de mandar um olhar de relance sobre o que o fado nos reserva. Vais ser uma coisa um pouco mais técnica, mas talvez alguém por aí ache fixolas.
*Eu sei; o vernáculo está, lentamente, a introduzir-se por estes lados. Mas o que é que querem? A definição de fado é mesmo "fodido". Não é "lixado" ou um eufemismo fraquinho semelhante.
7 Comments:
A última energia que me restar, em forma de corpinho enrugado, vai todinha para fazer crescer minhocas mais fortes e gordas.
Olha que isto parece-me um bocado badalhoco :-)
Enquanto que o destino de um inglês, a existir, será tomar um chá com scones e doce de laranja amarga às 17.30h, o destino dum tuga é ser atropelado ao ir levantar o EuroMilhões à Santa Casa.
Adorei esta parte, particularmente pelo toque que os bifes bebem chá porque foi uma princesa tuga que lá foi parar que criou a moda e, de certa forma, civilizou-os.
Abraço e tal
gajo da circunferência braçal:
A parte das minhocas é um pouco badalhoca, mas não deixa de ser verdade.
A outra parte, modéstia à parte, também acho que não me saiu mal.
Catarina de Bragança também lá introduziu o doce de laranja. E, como dote, levou Tânger e a ilha de Bombaim (o início dos ingleses na Índia!). Nunca foi coroada rainha de Inglaterra, porque era católica. Maizuma razão para não acredita em destinos e figuras a ele acopladas!
Ó pá, venho aqui confessar-me... este é um dos meus calcanhares de Aquiles... Devo ser a pessoa mais terra-a-terra que possas imaginar, mas não dispenso o horóscopo todas as manhãs...
E o destino implica de facto a existência de algo superior (em que não acredito, de todo) que nos manipula, quais fantoches, lá do alto (ou baixo?), mas às vezes caio na tentação de esperar que o destino resolva qualquer coisita...
Pronto, vou ali fustigar-me e já volto.
B-Good:
Hehehe. Não precisas de te confessar. Já tinhas escrito em tempos.
Nãp acredito que haja alguém que, volta e meia, não decida esperar para ver se algo se resolve por si só (apesar de no post me armar aos cucos, tenho de confessar que me incluo nesse grupo).
Este post e outro lá de cima davam para uns três cozidos e respectivas sobremesas, cafés e digestivos...
Também não acredito nisso do destino, e que venha o horóscopo e cartas da treta, não acredito em nada dessas coisas, qualquer semelhança com a realidade de alguém, é pura coincidência...
:D
S.:
'tá combinado, então!
Bonifaceo:
Além do mais, rotulam as pessoas!
Post a Comment
<< Home