Wednesday 21 September 2005

Nunca esquecer

O que até agora era um segredo bem guardado, passa aqui a ser público: sendo de origem judaica, uma boa parte da minha família (até à minha avó paterna, sendo que essa, naquele tempo, já cá estava) passou pelos campos de concentração, e desses, houve quem de lá não tivesse saido. Vinham da URSS, em fuga duns, para cair sob a pata de outros.
Ontem morreu (e morreu, porque "faleceu" e os outros termos são eufemismos idiotas e fracos) Simon Wiesenthal. Durante cinquenta anos perseguiu os carrascos e os responsáveis pelos massacres cometidos nos campos de concentração, pelos quais ele próprio também passou.
Ele refutava a acusação de ser vingativo, dizendo que "o único valor de quase cinco décadas do meu trabalho é um aviso aos assassinos de amanhã, um aviso de que eles nunca estarão em paz.".
Não resisto a transcrever aqui uma história que vem hoje, no Público:
Durante um jantar em casa de um outro sobrevivente dos campos de extermínio entretanto transformado num bem sucedido joelheiro, o anfitrião perguntou-lhe: "Simon, se tivesses voltado a construir casas (ele era arquitecto - N. do *), hoje serias um milionário. Por que não o fizeste?", "Tu és um homem religioso", respondeu-lhe Wiesenthal, "acreditas em Deus e na vida depois da morte. Eu também acredito. Quando chegarmos ao outro mundo e encontrarmos os milhões de judeus que morreram nos campos e eles nos perguntarem 'O que é que fizeste?', as respostas serão variadas. Tu vais dizer 'Tornei-me num joelheiro', outro vai dizer 'Contrabadeei café e cigarros americanos.', outro dirá 'Construi casas.'. A minha resposta será: 'Não me esqueci de vós.'"

Simon: Zecher Tzaddik Livrocho.

18 Comments:

At 21/9/05 16:10, Blogger The Crow said...

Que haja sempre, para todo o sempre, alguém que se lembre. Talvez, assim, se evite a repetição da inqualificável barbárie que (felizmente) passou à, e faz parte da, história.
Pronto conseguiste que eu fizesse um comentário sério.

 
At 21/9/05 16:18, Blogger S. said...

Valeu a pena.
Vale sempre a pena.

 
At 21/9/05 16:19, Blogger nana said...

Wiesenthal teve uma vida plena e com sentido, ele soube-o, antes de ir!!
e ainda que encontre difícil apelidar justiça, o julgamento e pena máxima que seja, perante a proporção do crime cometido, a frase de Wiesenthal que mais me elucida é:
justiça não é vingança, e como dizes, preparar o que vem, para que se não repita é o caminho mais luminoso, uma tocha num mundo comodamente em tons de cinza.

 
At 21/9/05 16:25, Anonymous Anonymous said...

É de louvar pessoas que dedicam uma vida por causas em que acreditam ou por lutas contra maldades sociais consecutivas e compulsivas! Quem não gostava de ter essa coragem?

 
At 21/9/05 16:30, Blogger The Crow said...

Lá em cima falta um e infelizmente faz parte da história”. (Isto n foi uma gralha foi um JUMBO)

 
At 21/9/05 16:53, Blogger just me said...

Bela homenagem!!!!

 
At 21/9/05 17:02, Blogger asterisco said...

The Crow:
Eu sabia que eras capaz.
Claro que não seria um comentário teu, se não tivesse uma adenda. Era como cerveja sem coroa de espuma.

S.:
Está tudo dito.

Nana:
Sobretudo nunca esquecer.

Míscaro:
Sobretudo em nome de um ideal, e não em nome da vingança. Existe um grupo de pessoas, que, a coberto do anonimato, "limpam o sebo" a antigos nazis.
Ele fê-lo sempre às claras, e em nome da justiça.

The Crow:
Vês o que é que eu queria dizer?

Alex:
Infelizmente, até há países que o fomentam de novo, curiosamente em reacção ao que eles chamam de extremismo.

Só mais uma frase do Simon Wiesenthal, que segue o raciocínio do que vocês têm comentado:
"É inegável que Hitler e Estaline estão vivos hoje. Eles estão à espera que nós nos esqueçamos, porque isso é o que torna possível a ressurreição destes dois monstros."
NUNCA ESQUECER.

 
At 21/9/05 17:06, Blogger asterisco said...

Just me:
Peca por insfuciente.

 
At 21/9/05 18:53, Blogger Humor Negro said...

Quem disse que um carácter obcecado-compulsivo não pode canalizar as suas energias de uma forma positiva?
Digo isto sem qualquer pontinha de sarcasmo.

 
At 21/9/05 18:56, Blogger asterisco said...

Humor Negro:
Eu percebi.

 
At 21/9/05 20:46, Blogger LPC said...

Controverso em alguns aspectos, mas, de qualquer forma, um homem de ideais como já não estamos habituados a ver...

 
At 22/9/05 09:27, Blogger Lisa said...

Um grande homem, que deixa um grande legado. Como sobrevivente empenhou-se na justiça pelos que morreram, pelos que ainda não nasceram sequer.
Como Primo Levi afirmou em "Se isto é um homem" (estou a citar de cor) sobreviveu para contar. Para que nunca ninguém possa esquecer o que o homem foi capaz de fazer ao homem.
Eu não esqueço. Nunca!

 
At 22/9/05 09:57, Blogger B-Good said...

Sabes que há 13 anos fui visitar o campo de concentração de Buchenwald (já n m lembro s é assim q s escreve)e até hoje ficou gravado na minha memória o som da gravilha pisada pelos milhares de judeus q ali passaram.
De tal forma q m arrepio sempre que piso gravilha, em qualquer situação, por mais banal que seja.
Tudo o que escreveste toca-me muito. Que nunca mais se esqueça e que os nossos filhos nunca esqueçam.

 
At 22/9/05 11:58, Blogger The Crow said...

Asterisco:
CLARO! :)
Imagem de marca!
(c) Gralha 2005

 
At 22/9/05 12:55, Blogger asterisco said...

Gumm:
Sem dúvida. Já há poucos assim.

Bzz:
Se ouvisses as histórias que eu já ouvi, em primeira mão...
Às tantas, entorpecem-te os sentidos.

Lisa:
Que tenham todos a tua memória.

B-Good:
É assim que se escreve, sim. Já tive a oportunidade de visitar Mauthausen, mas não fui. Ainda conheci algumas pessoas que passaram pelos campos de concentração e que me contaram histórias, e bastou-me a descrição verbal.
Sabes, a gravilha foi posta para os turistas. Na altura era terra - lama, quando chovia. Gravilha ficava cara demais.

The Crow:
Nem queria doutra maneira.

 
At 22/9/05 16:04, Blogger asterisco said...

Bzz:
Obrigado. Assim, sem letra miudinha ao barulho, são melhores.
Beijos, também.

 
At 22/9/05 18:42, Blogger pinky said...

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At 22/9/05 20:23, Blogger asterisco said...

Olha... devem me ter insultado e sairam de fininho.

 

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