A minha vingança
"Ó minha senhora, oxalá engasgue nessa merda que diz ser um bife!"
Estas foram as últimas palavras que senhora Felismina Marques, eterna - achava ele - sogra do sr. Silva, ouviu, antes de, efectivamente, se engasgar num pedaço de lombo (Promoção! 6€ / kg!), que se alojou, indevidamente, na traqueia.
Apesar de todos os esforços para reintroduzir aquele saudável rosa-bácoro à cara da senhora, o que incluiu o Zé Leonardo fazer "a manobra do gajo do anúncio que se engasga", nada funcionou.
O sr. Silva, que lá no fundo até achava que a sua sogra "sempre dava para um tipo passar o tempo quando estava chateado", chegou. inclusivé, e numa manifestação superior de sentimento de culpa, ir a um psicólogo, coisa da qual desistiu à terceira, porque "aquele atrasado mental do dôtor, pela massa que me anda a sacar, não tinha o direito de me proibir de levar umas minis. Eu até me descontraía mais facilmente!". Quem acabou por levar por tabela foi o Zé Francisco, já que foi recambiado para o mesmo consultório "a ver se o gajo lhe tira aquela mania dos bonecos, cum caraças!", isto depois de ter dasatado num pranto, porque a avó tinha morrido antes de lhe dar o Action Man que lhe prometera.
A sra. Silva, depois de uma semana sem dirigir a palavra ao marido e de, quando olhava para ele, o gelar, lá cedeu, sobretudo depois dele não querer mais do que sete minis durante o último desafio (Orgulho Picheleirense - 7, Sociedade Filarmónica e Desportiva Sacavenense - 3 - o árbitro deve poder voltar a ingerir sólidos lá para Julho). O sr. Silva, deitando todos os precauções ao vento, até lhe deu boleia até ao sanatório, para ir buscar o seu irmão (que lá estava internado, devido à doença mental subsequente a uma insufuciente oxigenação do cérebro durante o parto)! As coisas ficaram definitivamente bem, depois de ele deixar ficar o irmão da Sra. Silva lá em casa, ("Só até depois do funeral!") com a ressalva, de comer de pratos e talheres separados, que nunca se sabe...
O velório ainda deu azo a alguma discórdia, sobretudo depois de o Sr. Silva ter combinado com os amigos do tasco eles passarem por lá. A Sra. Silva discordou da opção de eles trazerem três grades de minis, uma mesa de plástico e quatro cadeiras, bem como os dominós e o baralho da sueca (que não é qualquer um: tem mulheres semi-nuas e foi marcado de comum acordo - já que era impossível jogar sem batota, agora faz-se batota, mas em igualdade de circunstâncias).
Lá se chegou a um compromisso: só a partir das onze da noite, e no largo, debaixo do poste de iluminação - o sr. padre também achou que na cripta, apesar do frio que estava de noite na rua, não podia ser.
No dia seguinte, pelas duas da tarde, lá seguiu o cortejo até ao cemitério do Alto de S. João, sendo que o Zé Leo ainda levou uma lambada quando achou que tinha uma piada bestial a avó ter de morrer para poder ir à frente. O Sr. Silva lá desistiu de obrigar o irmão da Sra. Silva a ir a pé ("a esta velocidade, não custa nada!") - ainda hoje, ninguém o convence de que a doença dele não se pega. No fim, lá acedeu a levá-lo de carro, desde que fosse sentado atrás, do lado direito, e respirasse pelo vidro aberto.
Surpreendentemente, apareceram bastantes familiares, alguns dos quais já não se viam há muito tempo, o que deu logo azo ao comentário que andariam "todos atrás do dinheiro da velha, é o que é!! Não pensem que levam um tostão! Depois de eu a ter deixado viver lá em casa e lhe ter pago as contas todas, era o que faltava!! Sanguessugas! Chulos!!".
Atrás do carro do Sr. Silva, seguiam os amigos do tasco, que tinham providenciado a grade de minis no porta-bagagens - o combinado era ir abri-las ao carro, para não interromper o sr. padre: nas palavras do Sr. Silva, "é uma questão de boa educação, pôrra!".
A seguir ao funeral, seguiu-se um lanche servido em casa dos Silvas, o que caiu que nem ginjas ao Zé Leo, que, depois de ter recuperado das tonturas devidas ao estaladão levado anteriormente, se perdeu de amores pela Vânia, prima em segundo grau, vinda de Brejos de Azeitão - como quem não quer a coisa, foi-lhe mostrar a aparelhagem nova que tinha na garagem.
Os amigos do Sr. Silva sairam do funeral mais cedo, com as chaves da casa, para poderem pôr "algumas minis" no frigorífico, o que não melhorou a disposição, naturalmente já abalada, da Sra. Silva, visto que, para criarem espaço, retiraram boa parte do lanche de lá, mas cedo demais.
A tarde foi passada em crescente boa disposição, pelo menos da parte do Sr. Silva e os seus amigos, bem como uns poucos familiares (seleccionados!!!) da falecida sogra. Tanto que, às cinco e meia da tarde, o Sr. Silva lá se teve de enfiar no carro, para ir buscar mais umas minis, não sem bater no Hyundai do sobrinho da sogra, o que não foi grave, porque ele já jazia inanimado na varanda, para onde o tinham arrastado para se recompor. O Sr. Silva, com a esperteza que o caracteriza, ainda teve a lucidez de comprar três grades mais três minis, que era para chegar com as grades completas ao sítio que, com o decorrer da tarde, se tinha espontaneamente convencionado chamar "a festa".
O Zé Leo e a prima Vânia foram encontrados atrás do sofá na garagem, o que ainda criou algum reboliço, com o Sr. Silva a declarar que "era o que faltava!!! Maich um anorlma.. alorna... maluquinho na família! Vai majé pó teu quarto, meu granda malandro!", acrescentando mais uma galheta ao já vasto currículo do seu filho mais velho, e incentivando os pais da menina a "levarem daqui echa galdéria!", o que também não caiu bem. No seu íntimo, no entanto, tinha a perfeita convicção de que o seu filho era "como deve ser, ao contrário do outro, com a merda dos bonecos".
Por volta das oito, e acabados os comes que a Sra. Silva tinha feito durante boa parte do tempo que intermediara entre a morte da mãe e a invasão familiar, as pessoas foram-se embora, com promessas de "um dia, temos de voltar a fazer isto!", sem pensar demais nas consequências destas palavras, nem na ocasião desta reunião familiar.
Pouco depois, o Sr. Silva, sentado na poltrona, dissertava sobre "aguela cambada de changuechugas!! Não penchem gue levam alguma coija!!", enquanto abria uma mini para se recompor de ter perdido clamorosamente a última sueca e a Sra. Silva, contrário ao que era o seu costume, decidiu adiar a arrumação.
Uma hora depois, quando saiu do antigo quarto da sua mãe, o Sr. Silva, enquanto mais uma mini entregava a sua alma ao criador, lá admitiu: "Chinto falta do raio da velha, pá..."
11 Comments:
Bem-vindo, S*lva!
Deve ser dos nervos ou não sei, mas não me lembro de ter rido muito mais vezes nem com tanta vontade como no funeral do meu avô - que era um tipo muito bem disposto e faz muita falta. Passaram 15 anos e ainda acho que o vou encontrar ali ao virar da esquina... Acho que é isto que querem dizer quando dizem que eles nunca se vão mesmo embora, não o consigo imaginar desaparecido... algo como numas longas férias, mas está cá sempre a sensação do reencontro...
Um abraço, pá, agora já profundamente másculo, solidário, pancadinha nas costas, coçagem de tomates (cada um os seus, é claro) e uma grande fungadela a puxar toda a ranhoca.
:)))))))))
Ainda não li, venho cá mais logo.
Nem imaginas a lufada de ar fresco que isto é,
já tinha saudades da "nossa" Familia.
Um beijo para ti
haaaaaa eis que a inspiração voltou! e voltou em força, o texto está....em lingua Silvistica...Sopimpa! grande nota de humor! jokas grandes. força.
Grande episódio da vida no campo! Sim senhor!
Bem regressado :)
:( Então mataste a avó?
Ontem ri-me mas ainda nao tinha lido. Claro que no fim, depois de tudo, sentado na poltrona ele percebeu que até ia sentir a falta dela. E nesse momento, que tu não contas, secalhar até chorou (sem que ninguem visse claro).
Não fosse ele o SILVA, aquele que há uns meses atrás, abraçou a mulher na praia. Lembras-te?
Gostei do texto mas fiquei triste por termos ficado com menos um elemento na familia.
Bom fim de semana Asterisco
Bej
Invisível assumido:
Aqui entre nós, que ninguém nos ouve (quanto aos que lêem, não sei...): por um lado, até estou um pouco aliviado de não ver a minha avó daqui a um mês. Gosto de me lembrar como a vi da última vez. E, sobretudo, não sei se gostaria de me lebrar dela doutro modo. Não sei se isto faz sentido.
Um abraço com pancada nas costas, daquelas de tornar todas as costelas flutuantes.
Pinky:
Andava há uma data de tempo à procura dum tema para os Silvas - este proporcionou-se, não achas?
Alex:
Claro que me lembro do abraço na praia, ao pôr-do-sol. Dá lá para um tipo se esquecer duma coisa dessas...
Não estava planeado a morte da senhora, mas tinha de arranjar alguma maneira de me vingar, ou não?
Claro que, agora, vou ter de arranjar outro bode expiatório para o Sr. Silva, mas isso deve ser fácil, com o feitiozinho que ele tem...
pelos vistos ando a perder uma bela "blognovela" com muito para ensinar de real e espelhado deste nosso cantinho banhado de Atlântico!
voltarei mais vezes!
Jinhos ;*(e obrigada por este bocadinho)
os Silvas são "aquela máquina"!!Já tinha saudades da tua escrita novelesca!!
;)
há gentinha um nadinha desbocada!!e algumas alminhas com costela "abutre" e abrutalhada!
Valho-nos o riso para combater a falta de siso!!
;)
Balzakiana:
O Sr. Silva manda dizer que "Boas-vindas a sério, é mazé com umas minis nas mãos!". Mas só umas cinco ou seis, que está de luto.
mnica;*:
Volta sempre. Ainda por cima com um asterisco tão janota no nome, és muito bem-vinda!!!
Nana:
A maioria das coisas, se não nos ríssemos delas, estariamos lixados...
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