To burn or not to burn
Hoje, finalmente, lá assinei a petição. E assinei, apesar de até não concordar na totalidade com ela. Concordo com metade: a metade que defende, implicitamente, que os fogos são maus. Não concordo com a metodologia defendida para os diminuir. Não é proibindo a venda por 30 anos de terrenos ardidos que se deve resolver a questão, apesar de esta medida até poder ser eficaz. Mas a eficácia não se mede somente pelos resultados, mas também pelos meios. Pus-me a pensar (foi aí que a coisa azedou): então e se eu tenho um pinhal e conto com o corte dele para fazer face a certas despesas inadiáveis, e ele arde? Não posso recorrer à receita extraordinária que é a venda dos MEUS terrenos? Tenho de me endividar até às orelhas (se é que ainda posso!), durante mais uma data de anos, e rezar para que as árvores não só cresçam, mas também fiquem de pé?
Já há uns tempos que tenho reparado numa coisa curiosa: na proporção de eucaliptal, em relação às outras espécies, que desaparece. Talvez seja engano meu, mas já tenho notado que arde comparativamente pouco eucalipto. E, num delírio raramente visto, pus-me a pensar, também, sobre isso. Porque é que a malta não pega fogo a um eucalipto? A resposta, é muito simples: porque com a madeira dum eucalipto queimado só se faz, na melhor das hipóteses, fósforos (não deixa de ser irónico).
O grande problema não são os terrenos. O grande problema, é ser permitida a venda de madeira queimada. Se se monitorizasse o destino / os compradores da madeira queimada, tenho quase a certeza absoluta que se iria descobrir algumas coincidências curiosas.
A madeira queimada, apesar de tudo é um negócio bestial: de um lado, há um desgraçado que tem um pinhal ardido, e cujas sobras estão em tão mau estado, que se ele não se despacha a vender, elas apodrecem. Do outro lado, há um tipo que, convenientemente, aparece na altura certa, e, por acaso, até tem uma massas. São poucas, mas foi o que se arranjou.
O governo já deu um primeiro passo para reduzir isto, ao afixar um preço mínimo para madeira queimada (mas, e como é característico, deve ter feito bem pouco para o fiscalizar).
A única maneira de cortar o mal pela raíz, a meu ver, seria proibir a venda de madeira queimada a privados. Seria obrigação do estado comprar essa madeira, substituindo-se aos parasitas incendiários. O estado, sendo quem é, teria dezenas de aplicações para essa madeira, de certeza. Já não havendo vantagens a retirar da piromania animal das florestas, os fogos seriam reduzidos substancialmente, o que faria com que este programa possivelmente até nem fosse de grandes encargos.
Então, perguntam vocês, porque carga de diabo, ó meu grande anormal, assinaste a petição?
Por uma razão muito simples: porque se for para acabar com os incêndios provocados, até seria capaz de assinar uma petição pela reintrodução da pena da morte. Bem, quase.
5 Comments:
masfizes-te bem em assinar na mesma... well done!
Onde é que tu te foste meter..... Por muitas voltas que se dê, o português arranja sempre maneira de dar a volta ao assunto! Se não é do coiso é das calçitas, o mesmo é dizer que fossem quais fossem as limitações impostas à venda de madeira ou terrenos ou seja lá o que for, parece-me que não iria mudar muita coisa! A ver vamos!
Às vezes até fazem parecer que portugal é um país de incendiários, de doentes pelo fogo..... tristeza!
1entre1000's:
Mas também mandei um e-mail ao gajo com as minhas reservas.
Patioba:
Não é que sejam muitos a incendiar as florestas. O problema é que bastam uns poucos...
Seja como for, se tivesses madeira queimada para vender e o estado te oferecesse um preço justo (porque, para isto funcionar, tinha de ser mesmo justo, não mínimo), enquanto que um salafrário qualquer te oferecia um preço para fazer negócio, qual escolhias?
Ou seja: o importante seria nunca deixar que a madeira queimada fosse parar ao mercado.
Perguntar a alguém com opinião FORMADA faz toda a diferença!
És um homem com H grande Asterisco. Os teus motivos são os meus.
Assino esta, e assino qualquer uma que apareça, mesmo sendo "incompleta".
Beijos!
Alex:
Pois, és capaz de ter razão: talvez haja alturas nas quais os fins justificam os meios.
Post a Comment
<< Home