Monday 12 February 2007

11 de Fevereiro

referendo

Então, ontem lá foi o referendo. Eu, apesar do estado de decrepitude em que estava, lá fui fazer um boneco. Depois, sentei-me à frente da televisão e caí na real: nunca devia ter havido um referendo. Desta vez o PCP até tinha razão: devia ter-se alterado a lei logo no parlamento, e pronto. Para quê uma consulta popular, se mais de metade das pessoas não lá põe os pés - como, aliás, de todas as outras vezes?
Talvez Portugal tenha merecido a democracia, mas, hoje em dia, será que ela merece Portugal?
Eu só sei que se gastou uma pipa de massa num referendo, para, efectivamente, nada. Mais de dois milhões de Euros numa campanha (que, como já disse antes, na minha opinião era totalmente inútil), bem como outro pipo de massa que o Estado teve de gastar nas infraestruturas todas. E já nem falo na poluição gerada durante a campanha e pelo facto de se ter impresso mais de 10 milhões de votos (acho que a conta são aproximadamente 12 milhões: um por cada recenseado mais 50%), dos quais 9 milhões vão para o lixo, pura e simplesmente.
O facto é que, se lhe desse para aí, o governo poderia fazer destas últimas duas semanas (e do voto de ontem) letra-morta. E isto irrita-me. Irrita-me que tenha passado a ouvir um chorrilho de disparates (de ambos os lados) durante duas semanas, saído da boca de pessoas que não foram lá pôr uma cruzinha. Pode ter ganho o "sim", mas, ao contrário do que disse o Sr. Sócrates, a democracia não ganhou: perdeu, e em toda a linha. Porque para ter ganho, deveria ter seduzido as pessoas a votar nela, ou seja, a ter ido lá pôr uma cruz, qualquer que fosse. Mais de metade disse "não" à democracia. Das poucas vezes que se retirou o poder aos partidos e se quis dar uma voz ao povo (palavra que, cada vez mais, parece um insulto), ele rejeitou-o.
De resto, e ainda ne ressaca da argumentação estrambólica que se ouviu estas últimas duas semanas, eu até vos vou dizer, porque é que pus uma cruzinha no "sim". Não foi nem pela despenalização, nem pelo alinhamento com os outro países (brilante argumento, este!), nem pela liberdade de escolha, nem pelo fim da humilhação, nem nada.
Foi um voto de confiança.
Para mim, o pior argumento de todos foi o de que um voto no "sim" seria o descalabro, porque passaria a haver abortos a torto e a direito. E ouvir isto, saido da boca de mulheres, já nem foi extraordinário: foi chocante. Era como se estivessem a admitir, que a mulher é um ser acéfalo, sem sentimentos nenhuns, quer, pelo simples facto de o poder fazer, agora iria passar a abortar como se a vida dela dependesse disso.
Talvez as senhoras equivalente à Dra. N. Pinto achem isso, mas eu prefiro confiar. E, contradizendo-me um pouco, porque também já disse que nenhum dos dois lados tinha a razão abdsoluta do seu lado, eu acho que tenho razão. E, por isso, votei na confiança. E mai' nada.

17 Comments:

At 12/2/07 14:00, Blogger just me said...

Apesar de ter uma opinião diferente da tua em termos de liberalização ou não, concordo plenamente contigo no que se refere à realização do referendo! Uma verdadeira desgraça!

 
At 12/2/07 14:09, Blogger B-Good said...

Triste povo este que se queixa de tudo e de todos e, quando tem a oportunidade de mudar alguma coisa, não se mexe.

 
At 12/2/07 14:43, Blogger asterisco said...

Just me:
A opinião ("sim" ou "não") é de somenos importância. Importava, é que, efectivamente, as pessoas a tivessem reflectido naquele pedaço de papel. Eu posso viver bem com o facto de a maioria da comunidade na qual eu estou inserido ter uma opinião diferente da minha.

B-Good:
Hoje já me chatearam por causa do referendo, a dizer que não concordava com o "sim", que deveria ter ganho o "não". Quando perguntei se tinha ido votar, teve a desfaçatez e dizer que não. Mandei-o à merda e disse-lhe que estava com uma gripe de caixão à cova e que não tinha paciência para atrasadices mentais. Dá Deus dentes... e, neste caso, tive uma vontade enorme de lhos tirar de novo.

 
At 12/2/07 15:05, Anonymous Anonymous said...

Eu não votei nem "sim nem não". E não votar em nada também faz parte da democracia, penso eu. E não votei em nada porque pura e simplesmente a minha consciência e reflexão a isso me obrigava.
Não era pelo "sim" de uma maneira ABSOLUTA (como se exigia numa matéria destas) nem era pelo "Não" de uma maneira ABSOLUTA (como se exigia numa matéria destas). O aborto não é uma uma questão de mais ou menos quase "sim" ou mais ou menos quase "não". Ganhou o "sim" e espero que a sociedade consiga tirar o melhor que "ele" encerra.
Mas há uma coisa que ouvi ontem e que me parece de inteira justiça:

Se o aborto vai ser subsidiado pelo dinheiro público, se o estado vai pagar para se fazerem abortos, espero e acho de elementar justiça e ABSOLUTAMENTE democrático, que também subsidie em igual valor quem tenha filhos e os dê à luz.
Ou será que decidir "fazer viver" não merece a mesma legitimidade e não é igualmente respeitável do que "decidir fazer cessar" (não interromper!) uma vida?

 
At 12/2/07 15:53, Blogger B-Good said...

Desculpa, *, mas queria só dar 1 achega ao (à) lamp: não ir votar não é o mesmo que votar em branco. Não sei qual dessas situações é que correspondeu à tua realidade; espero que tenha sido a 2ª hipótes porque, essa sim, reflecte discordância ou incerteza, e não alheamento, do problema em referendo.

 
At 12/2/07 16:15, Blogger S. said...

Só votou quem se importou.
Portugal tem uma população envelhecida. Imagino que só terão votado pessoas entre os 18 até aos 40/50 anos, maioritariamente, e que são aquelas pessoas em idade de a necessidade de fazer um aborto ainda lhes dizer alguma coisa.
Analisem-se os numeros de acordo com os vários factores da demografia e já teremos dados mais exactos, digo eu.

 
At 12/2/07 16:20, Blogger The Crow said...

Pois vai ter q ser (Sorry *).

Lamp:
Votar em branco é uma opção como outra qualquer, agora, n votar é, simplesmente (e perdoem-me o termo), cagar para o assunto.
Não posso deixar de lamentar quando grande parte dos habitantes deste país passam a vida a criticar tudo e todos mas, quando lhes é pedida a opinião, preferem ir passear para o centro comercial (na rua não porque chovia).

Repito: votar em branco é uma opção legítima, não votar é não merecer um regime democrático.
Pessoalmente já fiz 800km (ida e volta) para votar em branco portanto, estou perfeitamente à vontade para dizer o que digo e para me indignar com quem se abstém.

Mais uma vez as minhas desculpas asterisco.

 
At 12/2/07 17:19, Blogger CP said...

penso que o que afastou as pessoas das urnas, além da preguiça muito portuguesinha do "deixa-lá-que-o-meu-voto-não-serve-para-nada", foi justamente o envolvimento absurdo por parte dos partidos políticos. Já não bastava ter de ouvir argumentos deprimentes e simplesmente pateticos de ambos lados como para dar o golpe de graça ainda ter de aturar os políticos a tentarem retirar proveito de uma questão que, a meu ver, vai muito além da filiação política.

Fora isso aqui fica algo que já estava para dizer mas que ainda não tinha tido oportunidade: Welcome back asterisko!

 
At 12/2/07 18:04, Anonymous Anonymous said...

Crow e B. Good:

Quero dizer-vos em primeiro lugar que o meu comentário referia-se às razões de não ser adepto nem do "sim" nem do "não" e não ao facto de estar a defender a abstenção que, como é óbvio, não defendo. Antes pelo contrário.

Por amor à verdade, devo dizer o seguinte:
Apesar de ter como certo que o iria fazer, por motivos familiares relevantes não tive oportunidade de ir votar. Em condições normais sempre fui e posso-vos garantir que a maior parte das vezes até para votar em branco, como, por acaso, bem sabe o meu amigo asterisco.
À parte disto e também por amor à verdade, devo acrescentar e confessar que não chego ao ponto de ter o espírito altruísta do "Crow" para fazer 800 km para votar. Aí, nessa situação, assumo a minha fraqueza e peço perdão por não merecer um regime democrático...

 
At 13/2/07 12:40, Blogger asterisco said...

Lamp:
Pá, não há dúvidas que tens de comentar mais, que animas isto!
Mas agora, por partes: de um ponto de vista estritamente legal, a abstenção é tão defensável como o voto em branco. Repito: dum ponto de vista estritamente legal.
Não concordo com a afirmação de se ter de votar (mesmo neste caso) absolutamente convencido da correcção da proposta - isso nunca acontece. Neste caso, aliás, duvido que haja alguém que possa dizer: "Era mesmo o que eu queria."
Em relação ao que tu ouviste (ante)ontem: é justíssimo, mas tem a sua ponta de irrealista em termos de finanças. E não é muito difícil imaginar de que campo sugeriu a ideia.

B-Good:
Nem peças desculpas. As caixinhas de comentários servem para isso mesmo. Seja como for, claro que o voto em branco não é o mesmo da abstenção, apesar de na contagem, o voto em branco não ser contado. A fórmula é a seguinte:
Abstenção = eleitores inscritos - (votos em branco e nulos + votos válidos)
No entanto, o escrutínio segue a regra:
100% de votos = votos efectuados - brancos e nulos,
ou seja, se adicionares os votos "sim" e "não", isso dá 100% - os brancos ficam de fora.
Na minha opinião, injustamente, porque exprimem uma opinião. A abstenção, apesar de legal, não exprime nada, (a não ser alheamento, como tu dizes). Já agora: foram 1,93% de votos em branco e nulos.

S.
Por acaso, até seria interessante ver essa análise. Mas olha que eu vi muita gente de idade a votar - acho que, neste caso, também contou muito a convicção.
Curiosamente, parece que, segundo as sondagens (porque, sendo a votação secreta, é impossível de analisar outros dados que não os geográficos), as mulheres votaram mais no "Não" do que os homens. Especulo: será que as mulheres votaram mais segundo o coração e os homens mais segundo a solução que os pode tirar dum enrascanço? Hehehehe.

The Crow:
Em termos de desculpas, vale o mesmo para ti que para a B-Good.
De resto, concordo: quem, conscientemente, não vai votar, está-se cagando para o assunto. Nem é para o assunto. É, simplesmente, cagando. Mereces a minha admiração, porque eu não sei se faria 800 Km para votar, admito. Aliás, acho que não os faria.
Este país passa a vida a queixar-se dos partidos, e, das poucas vezes que lhes foi retirado o poder num assunto, para este ser decidido pelo país, ele não se expressou - perde a legitimidade, a queixa. É como tu dizes.

CP:
Obrigado, it's good to be back.
Eu sei o que é que faria: tornava as eleições não um dever cívico, mas uma obrigatoriedade - quem não fosse, pagava uma multa. Claro que se teria de criar condições para uma pessoa poder sempre votar (mesmo que estivesse a 400 km). Não é assim tão impossível: já existe nalguns países (lembro-me da Irlanda, por exemplo).
E incluia o voto em branco na contagem: equivalaria a lugares vazios na Assembleia, por exemplo. Era vê-los a terem de apresentar ideias e ter de as cumprir!!!
A responsabilização do eleitor pela sua escolha (sem desculpas) e a responsabilização do político pelas suas promessas - bem como a obrigatoriedade de ter de merecer o lugar com ideias. QUE ESCÂNDALO!!!!!!

Lamp (e, já agora, B-Good e Crow):
Confirmo. O Lamp é um gajo que, na maioria das vezes, vai votar e, posto perante o papelinho, dá-lhe UMA BRANCA. Hahahahaha.
E, como já tive ocasião de o dizer, também não sei se seria capaz de fazer 800 Km para ir votar. Nesses aspecto, como já noutros, tiro-te o chapéu, Crow. Mas saí da caminha e infectei metade da mesa de voto com uma gripe de caixão à cova. Conta?

 
At 13/2/07 15:52, Blogger Alex said...

A inércia assusta-me.
A defesa pela "vida" choca-me por tudo o que tenho lido.

Não compreendo a abstenção.
Não aceito a abstenção.
Não me orgulho de um País que num referendo em que se pretende melhor a CONDIÇÃO HUMANA; em que se tenta acabar com as MORTES DE RECEM NASCIDOS À NASCENÇA COM 9 MESES DE GESTAÇÃO; em que se tenta acabar com A MORTE DE MULHERES que optam por pôr termo à gravidez; em que se tenta que ADOLESCENTES COM 14 E 15 ANOS vivam em instituições de apoio (e muitas delas acabam por abandonar os filhos);

metade da população fica em casa.

E ainda me vêm dizer que eu devia ser remunerada por ter a minha filha?

Que raio de argumento é esse?
Tentar que as mulheres nao matem os filhos à nascença e os embrulhem e atirem com eles em sacos de plastico num contentor do lixo é uma condição comparável a quem tem filhos?

Tudo se resume a dinheiro?
Pois eu prefiro que o meu dinheiro, leia-se os meus impostos, sejam aplicados nas clinicas de aborto do que ter que SUBSIDIAR instituições onde as crianças vivem sob MAUS TRATOS, VIOLAÇÕES E EM CONDIÇÕES SOBRE-HUMANAS



desculpem!
Estou zangada, e tenho direito a estar zangada, quando metade do meu país encolhe os ombros num referendo como este.

Ha! Apesar de estar a chover, apesar de ter a minha filha doente em casa, apesar de ter que andar a pé durante meia hora por estar sem carro no Domingo, FUI VOTAR.

 
At 13/2/07 17:15, Anonymous Anonymous said...

Cara Alex:

Embora não frontalmente com o fizeram a B good e o Crow, calculo que se estava a dirigir a mim. Pelo menos também.

Tenho pena que não tenha entendido ou tenha entendido tudo ao contrário daquilo que o meu comentário expressava.

1º Sou contra a abstenção
2º Para mim esta questão não se resume a dinheiro. Era o que faltava! E se não percebeu a ironia.. o que posso fazer? Eu confesso que também não percebi a sua explicação em torno disso....
3º NÃO FUI VOTAR embora fosse essa a minha intenção. Por motivos que que só a mim me dizem respeito e que me bastam à consciência. Ou será que depois de despenalizado o aborto e a pena a ela associada vamos substitui-la por penalizar e criminalizar indiscriminadamente quem não votar sem olhar a razões legitimas para não o fazer!?!?
Aí sim garanto-lhe que andaria também meia hora ou mesmo muitas, muitas meias-horas à chuva para fugir de um país assim.

 
At 13/2/07 17:50, Blogger asterisco said...

Alex & Lamp:
A defesa pela Vida, é um pau de dois bicos, e há quem o veja assim e quem o veja assado. Nos EUA, "chosing life" é ser-se contra o aborto, em Inglaterra exactamente a mesma expressão é ser-se a favor (simpatizo com a versão inglesa, mas percebo quem lhe dê a volta). O tema é tudo menos pacífico e o importante mesmo, é, expressarmos a nossa opinião.
Pessoalmente, também não percebo quem não lá foi pôr a cruz, e tenho de admitir que me custou como o caraças sair do quentinho curativo da cama para o fazer. Admito, também, que brinquei com a ideia de não o fazer. Posso-vos garantir que, no estado em que estava, e se tivesse de ir a pé, não o teria feito. O que me faz confusão, são as pessoas que não lá puseram os pés, porque não.
Acho que se o Crow, p.ex. não tivesse feito 800 Km para ir votar, nunguém lho poderia ter levado a mal.
Em relação à questão das massas, não me parece que se estivesse a falar de recompensa ou suborno. Como já disse antes, é evidente que a proposta peca por ingenuidade (em vários campos), mas, num país em decréscimo e envelhecimento de população, não me parece de todo descabido aumentar-se as contrapartidas de quem tem filhos (a Alemanha acabou de o fazer, a tal ponto que havia mulheres a cruzar as pernas para só terem as crianças a 1 de Janeiro, quando entrava em vigor o subsídio novo. Os obstetras estavam em pânico...). Dizer que, se o Estado gasta X com um aborto, quem opte por ter um filho deverá também receber esse X, é que é uma contextualização totalmente errada - não se pode pôr um preço a uma opção e nunca se deve, numa questão destas, acenar com a cenoura.
Eu, pessoalmente, não me importava nada de receber mais uns trocos. Bom, mas eu não me importava nada de receber uns trocos fosse qual fosse a circunstância.
Eu, por mim, fui votar, e pus a cruz no "sim". E não sou a favor do aborto (repito: ninguém é a favor do aborto), tenho consciência de que não há soluções ideais e de que ninguém tem a razão absoluta do seu lado (porque se trata de uma questão de consciência). Mas com esta opção, consigo dormir melhor.
A minha grande curiosidade, é o critério que vai ser adoptado com as mulheres que fizerem um aborto às 11 semanas... Logicamente, terão de ser chamadas a tribunal - o povo assim o votou. Ou não?

 
At 13/2/07 19:01, Blogger 1entre1000's said...

oh bailhamenossasenhoradosaflitos, todos aqui em amena cavaqueira e ninguém me chamou!!!????
ingratos!

 
At 13/2/07 19:26, Blogger asterisco said...

1entre1000's:
Estás mais do que à vontade para te juntares - pela que me toca a mim, é sempre um prazer.

 
At 13/2/07 22:19, Blogger ups said...

asterisco disse:
"E incluia o voto em branco na contagem: equivalaria a lugares vazios na Assembleia, por exemplo. Era vê-los a terem de apresentar ideias e ter de as cumprir!!!"

Muito bem dito, também já tive esta ideia mas acho que seria impensável algum partido sequer propo-la com medo de perder lugares.

 
At 14/2/07 11:33, Blogger asterisco said...

ups:
Perder lugares?! Perdiam é o assento no parlamento!!!

 

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