Monday 6 June 2005

Ser roto IV

Ser roto é...
  1. Ir à Feira do Livro. É roto! Para quê gastar trinta ou quarenta contos em livros quando se pode ir à Ovibeja e trazer uma ovelha para casa? Ir à feira é acordar bêbedo às sete e meia da manhã, calçar umas galochas, pôr uma broa debaixo braço e ir à Feira da Cebola ou à Fatacil. Ou, aos sábados de manhã, pegar na carrinha e ala para a Feira de Recauchutados e Rações nas traseiras da Siderurgia Nacional. Feira pressupõe porrada, chouriços e bonés. Não é cá livros do dia e gajos de óculos e sessões de autógrafos.
  2. Conduzir com as duas mãos no volante. É roto! Então se os "cobóis" conseguem laçar um búfalo com uma mão, porque é que um homem há-de precisar das duas para agarrar o volante? O último sítio onde um homem precisa de ter as mãos é o volante. O volante só serve para duas coisas: desviar ou buzinar. De resto, a mão direita é para andar livre, para poder mexer na coxa que vai ao lado, sintonizar o relato e dar calduços aos miúdos.
  3. Passear cães com trela. Os cães são para andarem soltos. Passear um cão é uma actividade de risco. O giro é não saber nunca se o cão vai voltar a casa, esfacelar um polícia ou ser atropelado por um comboio. Trelas é para miúdos e não há mais conversa.
  4. Fado de Coimbra. É roto! O fado é para ser cantado em tascas por tipos que só conhecem sete letras do abecedário e que julgam que tremoços é marisco. E o fado não é cá para falar de amores de estudante. O fado é para contar histórias com velhas, estropiados, pescadores, putas, sargetas e vinho tinto.
  5. Combinar encontros com homens à porta de cafés cinemas ou centros comerciais. "Ai, vem ter comigo à porta da pastelaria 'Mirita'". Eu não me encontro com um homem à porta de sítio nenhum. Homem que é homem marca encontros é na estrada para Cabanas, no quilómetro dezasseis ao pé do cão morto. Mais nada!


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