Thursday, 29 December 2005

A quinta dimensão ou Este gajo é mesmo chato


Não acredito em extraterrestres (pelo menos, nos que nos possam visitar), apesar de, volta e meia, achar que anda por aí gente que não pode ser deste mundo.
Isto, porque ontem voltei a tropeçar num daqueles programas sobre encontros imediatos.
Até pode ser, que existam pelo universo fora vários seres inteligentes, e até mais inteligentes do que nós, só que acho virtualmente impossível que alguma vez cá cheguem.
Senão, vejamos: o Universo tem, numa estimativa, 27 mil milhões de anos-luz de uma ponta à outra. Melhor dizendo: se se percorresse 27 mil milhões de anos-luz, chegar-se-ia precisamente ao ponto de partida - isto devido ao facto de o universo ser infinito. Imagine-se dar a volta ao mundo; o conceito é semelhante, só que enquanto que a terra é um objecto infinito em duas dimensões (na terceira - o raio, neste caso - não o é), o universo é-o em três dimensões). O que isto também quer dizer, é que para ir de uma ponta à outra do universo, eu teria de viver 27 mil milhões de anos, e isto se viajasse à velocidade da luz, o que é impossível. O que isto, por sua vez, quer dizer é que a porção do universo que fica ao nosso alcance é comparativamente minúscula. Repare-se, que o nosso sistema solar mede 0,00063 anos-luz, e que para nós percorrermos uma distância daqui a Marte, demoramos, hoje em dia, três anos. Se o universo fosse do tamanho da Terra, a Terra seria do tamanho de uma bactéria e. coli (piriri, portanto).
Agora entremos no "Mundo do Suponhamos": suponhamos, que existe uma civilização cujos representantes vivem até aos 500 anos. E suponhamos que essa civilização consegue viajar a uma velocidade extremamente alta. Quase a velocidade da luz, suponhamos. Suponhamos, também, que eles vivem a 600 anos-luz, o que já pressupõe que só cá cheguem visitantes que nunca viram o seu planeta de origem, apesar de, a níveis cosmológicos, estarmos a falar de um saltinho. Para cá chegarem viajando a uma velocidade pouco abaixo da velocidade da luz (suponhamos, p.ex. 600 anos e um dia), teriam de ter uma fonte de energia absolutamente gigante na nave. Peguemos no bom do Einstein: uma das suas estipulações, é que quanto mais próximo se chega à velocidade da luz, mais energia se necessita, numa fórmula exponencial; perto da velocidade da luz, a energia teria de ser quase infinita, o que torna a coisa difícil. Depois, outro factor: para acelerar um objecto até à velocidade da luz, demoraria uma eternidade: tem de ser feito aos poucos, por uma questão de sobrevivência: repare-se que, por exemplo, um ser humano corre sérios riscos de vida, quando é desacelerado (fisicamente, é a mesma coisa que acelerado, só que no sentido inverso) de 300 Km/h em um segundo - o cérebro começa a chocalhar no crâneo (bonita imagem, esta). Em (des)acelerações mais violentas, ficamos feitos literalmente em papa. Não é de supôr, que um extraterrestre tenha uma resistência muito superior à nossa, mas mesmo que tenha: trata-se de o acelerar do zero aos 299791 km/s (sendo que a velocidade da luz é de 299792 km/s)... E, mesmo depois de acelerar até quase essa velocidade, teria de desacelerar, a dado ponto. Para fazer isto com um objecto com um quilo, a energia dispendida, segundo o bom do cálculo E=mc2, é absolutamente brutal: o nosso sol não dispõe dela.
Até agora, falei de espaço e como transpô-lo. Passemos a outro factor, o tempo; para isso, recorro a uma curta cronologia:
O universo tem cerca de 12-15 mil milhões de anos.
A Terra ter cerca de 4,5 a 4 mil milhões de anos.
Assumamos, que o universo tem 12 mil milhões de anos e transponhamos isso a um ano, tal como o conhecemos:
00:00 de 1 de Janeiro - dá-se o "Big Bang": é criado o universo;
Início de Fevereiro - forma-se a nossa galáxia, a Via Láctea;
12 de Agosto (aprox.) - formam-se o Sol e a Terra;
28 de Setembro (aprox.) - aparecimento de vida unicelular na Terra;
13 de Dezembro - aparecimento da primeira fauna;
25 de Dezembro - os dinossauros dominam, já, a Terra;
00:33 de 30 de Dezembro - um asteroide impacta na Terra, extinguindo os dinossauros;
09:00 de 30 de Dezembro - aparecimento do primeiro ser humanóide;
23:58 de 30 de Dezembro - aparecimento do homo sapiens (nós, grosso ao modo);
23:58'30" de 31 de Dezembro - Desenvovimento da agricultura - tornamo-nos sedentários;
23:58'47" de 31 de Dezembro - Construção das pirâmides;
23:58'59" de 31 de Dezembro - Shakespeare começa a escrever.
Por aqui se vê, que não só teria de haver uma avanço tecnológico quase impossível por parte de uma raça que vivesse razoavelmente perto (diria mesmo, impossivelmente perto, dada a dimensão do universo), como, em termos da comparação anterior, ela teria de viver num espaço de tempo ridiculamente coincidente com o nosso!
Resumindo: acho muito pouco provável que alguma vez tenhamos provas de vida inteligente activa noutro planeta. Ou já existiu, ou ainda não existe, ou está longe demais; os factores para haver uma concidência são, dada a dimensão espacio-temporal do universo, demasiadamente grandes.
Aliás, o que me espanta mesmo, tendo em conta os últimos desenvolvimentos, é que ainda haja vida por estes lados.

20 Comments:

At 29/12/05 14:07, Blogger The Crow said...

Lá vou ter que concordar contigo (mais uma vez) mas com um pequeno senão: perdoa-me mas a teoria actualmente mais aceite é que o universo é finito estando em expansão. O problema de atingir o limiar do mesmo reside em que quanto mais distante maior a velocidade com que se expande sendo esta velocidade, na orla do mesmo, muito próxima da velocidade da luz. Como disseste e bem e, mais uma vez, segundo as teorias actuais nomeadamente pela equação mais famosa de Einstein E=mc2 a velocidade da luz é impossível de alcançar. Pois para aumentar a velocidade é necessária energia, o que implica aumento da massa do objecto em movimento, mais massa implica mais energia e a velocidades próximas da luz a quantidade de energia necessária seria tão grande que se tornaria virtualmente impossível aumentar mais a velocidade.
Por tudo isto, apesar de finito, torna-se impossível atingir o limite do universo.
O problema de voltar ao não ao ponto de partida tem mais a ver com o facto (ainda bastante polémico) do universo ser ou não curvo.

Quanto a tudo o resto não podia estar mais de acordo (que dizes? isto serve para me perdoares a treta toda que escrevi em cima?) :)
Quem te mandou escrever sobre a minha paranóia da adolescência!? :)

Um abraço.

 
At 29/12/05 14:56, Blogger asterisco said...

The Crow:
A tua explicação está correctíssima. A questão, que de certo modo é semãntica, consiste precisamente na infinidade do universo. Basicamente, o argumento é que o universo não pode ser finito, senão teria de haver mais para além dele. Há, portanto, quem defenda que o universo tem de, à força de prova em contrário (i.e. descoberta de algo para além dele), ser infinito, apesar de em constante expansão.
Ambos os conceitos são, pessoalmente, complicados: se é finito, tem de haver algo para além dele. E esse algo, será infinito? E se é infinito, como é que se concebe algo infinito, que ainda por cima está em expansão?
Francamente, estas coisas de "massa", "energia" e "c(2)", ainda são um pouco a minha paranoia. de resto, estás perdoadíssimo, até te agradeço.

Balzakiana:
Penso que o truque, é conseguir ir a esses lugares, sem sair do sítio; assim, só encontra quem convidar.

 
At 29/12/05 15:08, Blogger The Crow said...

Hoje tinha que contrariar alguém e saí-te na rifa. :)
O facto do universo ser finito e estar em expansão não implica necessariamente que haja algo para além dele. Isto porque o conceito de espaço apenas faz sentido no universo. Como explico isto… Digamos que se não houvesse universo não haveria espaço. Assim o universo expande-se, simplesmente, para o espaço que ele próprio cria uma vez que o espaço é, tão simplesmente, uma característica do mesmo.

Ilustração. :)

 
At 29/12/05 15:12, Blogger Viuva Negra said...

quando penso nisso, fico com arrepos, dá-me ma sensação de coo som umas formiguinhas e não passamos de ma poeirina nsta imensido co tanto por descorir e descodificar.
Um assunto qe dá pano para mangas, que remete a um inicio e a um fim ! e eu odeio a palavra fim , seja a que nivel for, prefiro , transformação, mudança qualquer outra ...

 
At 29/12/05 15:13, Anonymous Anonymous said...

Também li carl sagan que pensava que seria tremendamente casual sermos a única espécie de vida num imenso (mas finito) universo.

É claro que a partir disto se criam teorias de civilizações mais evoluidas que a nossa (que não parece assim coisa impossivel, burros como somos a destruir tudo em que pousamos a vista)e daí a sermos visitados é um saltinho.

Concordo com quase tudo, principalmente com os contactos imediatos e as visitas constantes dos hoemenzinhos verdes, ou brancos, ou o que a imaginação consegue criar (induzida, claro!, e nisto o cinema tem uma culpa do caraças) mas discordo do principio de que partes: que compreendemos o mundo como ele é. Melhor seria dizer que, com o conhecimento que temos hoje, isso é inconcebível, da mesma forma como não compreendemos o infinito. Mas daí a ser impossivel, meu caro, no way. Se conseguimos pensá-lo (ou se conseguirmos pensá-lo), conseguimos fazê-lo. Tens que pensar a evolução, o devir.

Penso eu de que.

 
At 29/12/05 15:47, Blogger The Crow said...

Faltava a minha adenda:
É impressionante a quantidade de estragos q a malta conseguiu fazer em 2m. :)

 
At 29/12/05 15:49, Blogger 1entre1000's said...

Óóóhhh Rei Asterisco, anda cá!!! Senta-te aqui a minha beira!!!!
Parece-te bem, um ponto tão intelectualmente esclarecido como tu,
pores aqui os teus fieis leitores, a viajar pelo Universo, à velocidade
da luz, com o cerebro a chocalhar no crâneo?!?!??!!?
Rai’s t’ parta rapaz!!!!!! Para o que te havia de dar....

 
At 29/12/05 17:15, Blogger asterisco said...

A Pinguina:
É como te digo: acho é quase impossível que nos encontremos. Mas não deixa de ser (u)quase(/u) impossível.

The Crow:
Percebi perfeitamente o que queres dizer: o espaço dentro de um balão é definido pelo balão e só existe se existir o balão, numa interpretação muito lata. Mas sempre foram conceitos estranhos para mim. Não consigo deixar de pensar, que foram criados para se conseguir explicar o que ainda não se entende (como o foi a cúpula de cristal na qual se moviam os astros, p.ex.). Convencionou-se assim, até que a observação defina um modelo funcional.
Prova disso, é que os que sabem, mesmo do assunto andam às turras uns com os outros sobre isto há uma data de anos.
Muito obrigado pela ilustração - até serve para demostrar a analogia entre vijar no espaço e viajar na terra.

Viuva Negra:
Se fores ver que se estima que ainda estão por descobrir 80 a 98% das espécies existentes neste planeta, dá para ter uma noção do muito que ainda falta lá fora. E em relação ao fim, se Lavoisier de facto não tiver razão com a questão de tudo se transformar, também não se vai dar por isso.

Zero:
Não digo que seja impossível; acho é que é brutalmente difícil. Acho impossível, isso sim, existirem tantas civilizações a nos visitarem, como supostamente tem acontecido. Se for uma, já é uma sorte / coincidência absolutamente incrível. Claro que ninguém compreende o mundo. Até Einstein rejeitou até ao fim da sua vida as teorias quânticas. A nossa mente é até bem fechadinha a pensamentos novos.
De resto, sinto exactamente o mesmo: estas questões fazem com que a cabeça não pare. E parar, é morrer.

 
At 29/12/05 17:24, Blogger asterisco said...

The Crow:
A mim, já me impressionam os últimos cem anos...
Longa vida ao rei da adenda.

1 entre 1000's:
Eu sei, eu sei. Tu gostaste foi daquela altura em que madava coisas pelos ares.

Penso Rápido:
Tu és é maluco! Pagar para aqui vir...
Aiaiaiaiai... Não há cê cedilha em alemão...

 
At 29/12/05 20:38, Blogger nana said...

gostei da imagem do "cérebro a chocalhar!!"
~pensar alto só faz bem!!
se fossem muito inteligentes não arriscavam a fazer-nos qualquer visita!!
era mais "Férias no Sol" ou qualquer coisa impossível segundo a nossa limitada sapiência!!
o asterisco versão alien ficou catita!!
;)
;)

 
At 29/12/05 21:42, Blogger asterisco said...

Nana:
Pensar, faz melhor do que visitas regulares ao ginásio.
Se forem de facto verdade as visitas, também não devem ser completamente estúpidos: mal contactam connosco, piram-se.

 
At 29/12/05 22:04, Blogger S. said...

Ficou a doer-me a ervilha...

 
At 29/12/05 22:04, Blogger S. said...

Ficou a doer-me a ervilha...

 
At 29/12/05 22:07, Blogger S. said...

É por estes posts e subsequentes comentários que ADORO o teu blog!!! Já tinha saudades de sentir a ervilha a latejar com um dos teus inteligentíssimos, culturalíssimos, e saga(n)zíssimos posts.

 
At 30/12/05 08:55, Blogger asterisco said...

S.:
Escrevi dimensão com "ç"...

 
At 30/12/05 11:32, Blogger nana said...

não sei se chegam a fazer a viagem...de lá, devem ver de longe a Humanidade a disparatar e devem ter distrações melhores!!
;)
Excelente 2006!!
;)

 
At 30/12/05 13:02, Blogger S. said...

Quem pode, pode.

 
At 30/12/05 14:21, Anonymous Anonymous said...

Isso! Eu vi logo que era isso!
Por momentos, já algum de vós "pegados" pensou: E se existe uma velocidade superior à da luz com menor consumo de energia e para grandes massas! Que, por ventura, tenha sido descoberta por aliens com um desenvolvimento superior ao meu....

PS: Renego qualquer piada que tenha directa ligação ao meu desenvolvimente em particular! Hãaaaa

 
At 30/12/05 18:32, Blogger asterisco said...

Nana:
Não resisto...
Repara que, se viverem a 2000 anos-luz de cá, e olharem pelo telescópio e nos conseguirem ver, estão a ver Cristo a nascer. O pior ainda está para vir, portanto. Só vão ver as bombas atómicas, a poluição e as ditaduras e democarcias a pleno gás daqui a 2000 anos.

S.:
Snif, snif. Já me sinto um pouco melhor.

Míscaro:
Não existe. Não pode mesmo existir: é uma impossibilidade física. Era como se existisse um planeta com massa, mas sem gravidade. E não é só uma teoria: já foi testado no CERN, na Suiça. A única hipótese, seria a existência de wormholes; "buracos" que ligassem instantaneamente dois lugares no espaço (um pouco como um túnel só com entrada e saída, sem secção do meio). Esses fariam com que uma pessoas se transportasse mais rápido do que a luz de um sítio para o outro.
Mas ainda só existem em teoria. E mesmo aí, são extremamente instáveis.

 
At 3/1/06 15:45, Blogger asterisco said...

Fox:
Pelo menos só aterravam lá pelos lados das Maurícias, ou coisa que o valha.

 

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