Friday 30 November 2007

Bru-tal


Serj Tankian
Elect the Dead
Por este disco, passava noites em branco, só para o poder ouvir mais umas vezes. Uma ou duas vezes por ano aparecem-me coisas destas, e só a muito custo não digo que é o melhor disco do ano. E só por princípio.
Para o fim-de-semana, três-bombas-três, em rotação, como asteriscos sonoros, mas tudo menos notas de rodapé sonoras. Bru-tal. Não há melhor maneira de desejar um bom fim-de-semana, desta vez.

Thursday 29 November 2007

Araújo


Quem vem do Campo Pequeno pela Defensores de Chaves fora, encontrará, do lado direito e um pouco antes de chegar à António José de Almeida, o Araújo.
O Araújo veio, em tempos, da Serra da Gardunha; há que tempos, nem sei: na minha família, atravessou três gerações de barbas e cabelos. O meu avô ia lá, desde que se mudara para a Visconde de Valmôr, há mais de 60 anos. Pouco depois, foi o meu pai, levado pela mão para cortar o cabelo, e eu passei a ir ao Araújo porque era tão óbvio como um mais um serem dois.
O Araújo falava como um carroceiro e conseguia reduzir tudo a um monte de escombros verbal; poucas foram as vezes o ouvi elogiar algo, e mesmo quando o fazia, interjeitava um "cabrão" qualquer, não fosse o diabo tecê-las. E, apesar de viver há que tempos em Lisboa, nunca perdeu o seu sotaque beirão, que lhe dava a graça aos "S" - "Eches filhoch duma puta, é chó o que lhe digo!".
Ir ao Araújo, e fazer a barba à navalha, era um dos prazeres semanais (mais não dava, que a carteira não deixava). Eram três a trabalhar no Araújo, mas a antiquidade genética dava-me o privilégio de poder deixar outros passar à minha frente, se o Araújo estivesse ocupado. "Atenda eche chenhor aí, que eche é meu" - já toda a gente sabia, mas o Araújo lembrava-os à mesma.
Eu já só conheci o Araújo com as mãos a tremer. Nunca deu um golpezinho que fosse. Aproximava a navalha, de mão tremeliquenta, mas quando tocava na pele, era trigo limpo, farinha Amparo.
O cabelo era cortado curto, "dá menoch trabalho e até pareche maich!", e, coisa que nunca comprovei, jurava que lavando o cabelo com sabão azul, ele durava até ao fim da vida. De facto, o Araújo tinha bom cabelo.
O Araújo era o primeiro a chegar à barbearia e o último a deixá-la e só tratava por "tu" as crianças. Até o António, que lá trabalhava há tanto tempo como ele (tira coisa, põe coisa), era "você". Eu era um "você", bem como o meu pai, mas o meu avô já era um senhor. Começou a lá ir adulto, era senhor. Quem entrava "tu", passava, a seu tempo, a "você", mas não a senhor: era da casa.
Agora é o genro do Araújo que está à frente da barbearia Araújo. O nome mantém-se, foi um pouco arranjada e, na parede do fundo, estão fotografias do Araújo a cortar, sorridente, o cabelo da vários "tus". Só o Araújo cortava o cabelo da crianças. Ele gostava, e tinha sempre conversa para eles. Se descobria que eram de outro que não do seu Sporting, fingia um susto e já ser ter enganado e que, pronto, lá se ia ter de remediar rapando o cabelo todo.
O Araújo morreu (sim, porque o Araújo era, definitivamente, uma pessoa que não "falecia") num Domingo. Tinha ido no seu velhinho Ford Taunus ver como é que estava a barbearia, como o fazia todos os Domingos. Há muitos anos que já só guiava o carro ao fim-de-semana, que durante a semana era uma chatice. Na volta para casa, morreu.
Não sei que idade tinha, mas devia ter mais de noventa. Nunca chegou a ir descansar para a sua terra, como sempre disse que um dia haveria de fazer, tendo, inclusivé, rompido com um contrato de trespasse da barbearia, já nos seus oitentas. Lá devolveu o sinal, a dobrar.
O Araújo foi cremado, e as suas cinzas foram espalhadas, tal como ele quis, na sua "Cherra da Gardunha". Eu ainda vou ao Araújo, mas já não é a mesma coisa. Ainda me fazem a barba à navalha, mas já não tenho o privilégio de poder esperar mais tempo do que os outros. Faço a barba com qualquer um dos que lá estão: o genro, que está finalmente à frente da barbearia, ou um dos dois empregados dele (o António, que ainda lá está (não sei se como sócio), não a faz tão bem - às vezes, arranha).
Quando olho para a parede do fundo, onde, entre as fotografias, também está um quandro com dedicatórias para o Araújo, sinto falta dele.
Icho não che fach. Chaiu-me um belíchimo cabrão, Araújo.

Wednesday 28 November 2007

E o carphone vai chamar-se car...

Não. Desculpa lá... Eu ouvi bem? Fónix?! A sério?! FÓNIX??!!!!
Fééééldrasssssssss!!!!!
E será que os CTT também entregam correio na lua? É que lá viver, vivem...

Monday 12 November 2007

T.D.C.

O asterisco sonoro de hoje partilha algumas coisas com o post anterior:
duas das três letras do título e também tem um puto - que já não o é, aliás.
Já por cá passaram com o outro sucesso deles, portanto fica aqui a segunda parte do "best of" deles: Trabalhadores do Comércio.

T.P.C.


Este foi o trabalho para casa do puto para este fim-de-semana. Sem comentários.

Visita à Culturgest
  1. Qual foi o dia da visita?
  2. Quem foi?
  3. O que viste?
  4. O que mais gostaste?
  5. Que perguntas tens?

  1. Eu não me lembro, mas sei que foi em Novembro.
  2. Foram todos da minha turma.
  3. Eu não me lembro, porque não prestei atenção nenhuma à visita de estudo. Não sei do que se falou ou o que vi.
  4. Não sei do que gostei mais, porque não me recordo do que lá estava. A minha mãe cansou-me ao obrigar-me a escrever este texto.
  5. Não posso fazer perguntas sobre a Culturgest, porque não me lembro de ter lá ido.
As minhas sinceras desculpas,
Lucas R.
Puto: agora, entendende-te com a professora.

Thursday 8 November 2007

O pesadelo


Eis uma paródia brilhante ao que é, infelizmente, o pesadelo da vida real de qualquer designer - e o que nos faz dizer "Para quem é, bacalhau basta" e "Albarde-se o burro à vontade do freguês".

Tuesday 6 November 2007

À parte o género...

...o asterisco sonoro de hoje resume perfeitamente as minhas últimas semanas. Donna Summer.

Sem desculpas


Já se estão a tornar um (mau) hábito, as ausências por estes lados. Mas, desta vez, não peço desculpas. Estive tão atolado em trabalho, que nem sequer dá para aqui pôr aquela frase recorrente (que, admito, também é um mau hábito): "no pouco tempo que tive, francamente não me apeteceu".
Têm sido dias de 14 horas de trabalho (a semana passada, registei 14, 16 e 20, nos primeiros dias - depois tirei a sexta-feira, toma lá), e, às 3 ou 4 da manhã ("fim do dia"...), OK, admito: não estava para aí virado. Ontem a coisa acalmou um pouco: consegui sair daqui a horas normais (sete e meia, cum carago!!!), e pisguei-me para casa, que isto de só ver as minhas gentes ao fim-de-semana também não dá pica nenhuma.
Seja como for, agora vou LER as minhas gentes. Até já.
E, desta vez, NÃO desculpem lá qualquer coisinha. OK, tudo bem: peço desculpas por não pedir desculpas.


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