greve (Fr. grève), s.f. suspensão voluntária, colectiva e temporária do trabalho por um conjunto de pessoas por motivos de ordem laboral; paragem voluntária, colectiva e temporária de uma actividade por reivindicações de vária ordem ou por protesto (greve estudantil ou parede, greve de fome).
Dicionário Universal da Língua Portuguesa, 2ª edição, 1997, Texto Editora
Os ingleses, com pilhas de experiência nestas coisas, não fosse lá que nasceu o trabalhador operário moderno, é que a sabem toda. Lá, uma greve não tem um nome assim meio abichanado (ainda por cima, vindo de onde vem...). Lá, é "strike". Zás, trás, catrapás. Traduzido, nada mais que "malhar". Que é como quem diz "malhar nos gajos lá de cima". A razão é muito simples: as greves, lá, funcionam. A malta lá faz uma greve (lembram-se? A greve dos mineiros que quase derrubou a Thatcher?) e cá é notícia - paralisações de duas semanas ou mais, se for necessário.
Cá, como é?
Dois diazitos (bem ligados ao fim-de-semana, claro está, mas isso já é outra história - mete falta de moral e ética). Depois, volta-se para o trabalho e, veja-se lá, está tudo na mesma. Nós não fazemos greves. Apanhamos uma amigdalite colectiva.
A greve, por estes lados, serve para uma coisa só: duas a três vezes por ano, convém parecer que os dirigentes sindicalistas fazem alguma coisa. Então, aparece aquele energúmeno na televisão a declarar que "As massas trabalhadoras, portant's, vam's fazer 'ma greve.". Depois, retira o rascunho com as anotações sempre válidas para aquela tomada de medida ("Caraças, bendito papelzito, que já me safou durante os últimos 4-5 anos"), e desbobina as razões do costume.
Eu nem sou contra a greve, bem pelo contrário. Mas estas greves à faz-de-conta... façam-me lá um favorzito e vão sentar-se num granda porco.
Os sindicatos, hoje em dia, recebem dinheiro dos filiados para quê? Para que ciclicamente lá seja mais um dirigente processado por apropriação indevida, pelos vistos.
Para isto ser eficaz, era só aplicar o que se faz noutras bandas: separação dos sindicatos e dos partidos políticos, e obrigatoriedade dos sindicatos pagarem os ordenados dos filiados durante uma greve.
Seriam menos greves, é verdade, mas de certeza que mais prolongadas e eficazes. É que a greve, meuzzzz amigozzzz, e isto é um segredo muito bem guardado que aqui divulgo, é um último recurso.
Por isso é que cá temos greves e não "strikes": o governo estás-se perfeitamente marimbando para cumprir as exigências dos sindicatos, porque sabe que, dois dias depois, fica tudo na mesma. E os sindicatos salvam a face, convocam a greve e assim até parece que fizeram algo. E o trabalhador, dois dias depois, volta para o mesmo lugar, as mesmas ferramentas e as mesmas condições. Enfim, deram-lhe um fim-de-semana prolongado.
Doutro modo, os sindicatos só faziam greve depois de tudo muito bem ponderado, o governo até tremia só de pensar na possibilidade e os trabalhadores, vejam lá, até poderiam retirar algum benefício daquilo. Pelo menos, não seriam prejudicados. E a filiação num sindicato até passava a fazer sentido. O que, por sua vez, fortalecia o sindicato. E talvez, então, podiamos deixar de chamar-lhe greve, e chamar-lhe "pazada" ou algo igualmente catrapás-impactante.
Agora isto? Cada vez que há uma reunião entre governo e sindicalistas, já sei que vai haver algures uma sala cheia de engravatados a brincarem com a sua própria pilinha, porque ninguém, nem eles, acreditam que dialogar vá fazer grande diferença.
Parafraseando Woody Allen, mais vale entreterem-se com um grande amigo.