Já referi nos comentários do post anterior, que o fim-de-semana passado foi, em boa parte, passado no Alvito (a ida a V.N. de Milfontes deu para duas idas à praia, nas pontas dos três dias, mas foi só a primeira e última etapa).
O Alvito não vale muita coisa (hei, processem-me!). É uma terra, como tantas outras, que já viu os seus tempos de glória passar. Como todo o resto do Alentejo, tem a vantagem de as pessoas genuinamente gostarem de tratar da sua terra: tudo está limpinho, as casas estão arranjadas, mesmo que isso saia do bolso de quem não tem, de facto muito - o norte de Portugal, nesse aspecto, é frequentemente desolador. No norte (e contra mim falo, que todas as minhas costelas lusas de lá vêm (eu sei, S.: a sul do Douro não é norte...)), as casas servem para habitação, ponto-final-período, e existe um desmazelo, não generalizado, mas muito frequente.
O Alvito tem um castelo, que, em abono da verdade, nunca foi bem um castelo, pelo menos na definição de "castelo" como "fortificação": logo na sua concepção, no séc. XV, foi desenhado para ser uma residência. A vantagem disso, é que passou ao lado de todas as iniciativas bélicas, mantendo-se razoavelmente igual ao que era na altura (apesar de ter havido a necessidade de o recuperar, após um certo descuido durante o séc. XX). Como consequência de não ter funções bélicas, acabou numa construção "amorosa". cito, aqui, a senhora, que homem que é homem, emprega, na melhor das hipóteses, a palavra "giro", e só quando é para se referir a alguma parte da anotomia feminina ou a um desporto radical qualquer. Exemplos?
- Epá, a tua mulher é muito gira! - e só se emprega aqui o termo "gira", porque se se admitisse os pensamentos que se teve, o amigo deixa de a trazer, ou
- Então? Esta merda de salto em queda livre com abertura do páraquedas a 20 metros do chão? O que é que achaste?
- Epá, é giro, mas sabes como é que é. Eu cá, é mais coisas mesmo excitantes. - seguido de uma ida à lavandaria para a limpeza a soda cáustica de toda a roupa abaixo da cintura.
Seja como for, "amoroso" é, admitidamente, um termo aplicável. O castelo do Alvito tem duas vantagens enormes: é o monumento mais importante do Alvito, e é, ao mesmo tempo, uma Pousada (o que acarreta a desvantagem de não ser barato...). Seja como for, mata-se dois coelhos de uma só cajadada: arranja-se alojamento e vê-se o castelo (que, de "amoroso" que é, está visto em vinte minutos). Na imagem, à direita, o castelo visto do jardim (que fica do lado de fora das muralhas, com piscina, que 40º à sombra não são para brincar!) - a janela do quarto que mais foi abusado este fim-de-semana é a do meio das janelas com coluna a dividir. Na imagem da esquerda, a vista para o pátio (no interior, portanto), mais especificamente para o restaurante - outro ponto alto da estadia - comi aqui, o que foi a melhor sopa da minha vida e que, com justiça, faz parte das lista de recomendações do cozinheiro: sopa de tomate à Alentejana, com ovo e pão. Ainda me estou a babar.
De resto, o Alvito não tem muito para se ver, aparte das igrejas e monumentos do costume, que, neste caso específico, não se destacam particularmente.
O único destaque, para o qual se vai bem a pé do castelo (mesmo com muito calor), são as grutas do Alvito, aliás do Rossio, que, aliás, nem são grutas.
Os mouros começaram a fabricar mós no Alvito, com a particularidade de o fazerem não a céu aberto, mas subterraneamente. A pedra era partida e a mó feita no local. Esta actividade manteve-se até ao séc. XVII, tendo-se depois esquecido a gruta que daí resultou. Só se voltou a encontra-lá em meados do séc. XX, quando uma carro de bois aí enterrou uma roda. É que, não só era uma exploração subterrânea, como só tinha saidas via túnel até à Câmara Municipal (entretanto tapada), que era, em tempos, uma prisão (adivinhem quem era "recrutado" para esculpir as mós), bem como a um convento (dos trinitários, que "herdaram" a exploração dos mouros), também entretanto tapada. Não havia, portanto, indícios exteriores da sua existência. Agora, pode-se visitá-la, com direito a guia - a senhora que nos leva, é duma autoridade marcial, o que torna a coisa ainda mais engraçada.
quem quiser mesmo, pode ainda dar um salto à Igreja Matriz, a pé. É interessante, sem ser deslumbrante, e o passeio pedonal tem a vantagem de abrir o apetite para a caminhada direitinha à piscina da pousada. De resto, passa-se um fim-de-semana de papo para o ar, o que, convenhamos, não é nada mal visto.