Friday, 12 August 2005

AGORA É QUE É

18.00 horas.
Fui.

Black like Barry White

Estava eu a ouvir uma canção muito parva (portanto mesmo ao meu gosto) dos Bloodhound Gang - "Fire Water Burn", aquela que começa "the roof, the roof, the roof is on fire, we don't need no water let the motherfucker burn, burn motherfucker, burn" - quando, às tantas, a letra é a seguinte: "I'm not black like Barry White, no I am white like Frank Black is". Nem mais. Fica como segundo asterisco sonoro o Barry White: "Let's get it on", que é o mesmo que dizer que espero que continuemos a "get it on" daqui a duas semanas.
Para quem for de férias nestes tempos, que sejam tudo o que delas esperam. De resto, e para todos, beijos e abraços, a escolher consoante a preferência.

P.S.: quem ler os comentários, vai perceber que acabei de fazer figura de urso: a canção é do Marvin Gaye, claro. Já tenho o chicote de nove pontas preparadinho. Que raio, ter de ir de férias com cicatrizes!

7-horas-7

É o tempo que falta para eu me atirar de cabeça em quinze dias de dolce fare niente. Durante quinze dias, só vai ficar a bombar o asterisco sonoro, em rotação contínua.

Alterações sonoras

A pedido dele, uma pequena substituição nos asteriscos sonoros: sai a dos Type O Negative, para entrar outra deles: "Love you to Death".
Infelizmente, o servidor dos barulhos está com indigestão. Lá mais para a tarde deverá estar novamente recuperado, é uma questão de darem uma espreitadela por cá.

And now, for something completely different


Ele jurou que nunca mais iria de auto-estrada: só para retirar o "Dr." dos cheques todos, foi meia hora.

Thursday, 11 August 2005

Já está!!!

Não sei como, mas já está:
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Para comemorar a minha passagem para o lado negro da Força, fica a bombar Type O Negative (apesar de tudo, com uma canção menos negra do que seria possível, que ainda sobram 44% - digamos que sou um Anakin Skywalker na fronteira).
A outra a sair dos altifalantes, para quem carregar no "play", é um excerto do Requiem em ré menor (KV. 626) de W.A. Mozart - para contrabalançar.

Que original!

Onde é que a PT terá ido buscar a ideia tão original do seu logótipo, bem como da codificação do alfabeto em quadrados com bolinhas? Uma curiosidade: os carros da frota da PT, quando têm pintados quatro quadrados seguidos de outros dois, assim:

isto quer dizer: liga-me.


O senhor chamava-se Viktor Vasarely, húngaro de nascença (1906) e francês (ninguém é perfeito) por adopção (morreu em 1997).
O edifício ao lado do quadro, não é o escritório da PT no futuro aeroporto da Ota, mas sim a fundação dedicada ao senhor.

P.S.: A identidade da PT, como cá não se faz nada de original, foi encomendada à Wolff Olins, de Londres. Os mesmos que fizera o logótipo da Galpenergia, que custou os olhos da cara e teve que ser substituido por outro, porque não era exequível nos postos de gasolina. Por sinal, o de "substituição" foi feito cá:

Wednesday, 10 August 2005

Encantos

Agora nos sons, uma da Nina Simone: "I put a spell on you", e a mesma, mas na versão que lhe deu origem, do "Screaming" Jay Hawkins. Eu acho que fica melhor o original - segundo dizem, gravada numa noite especialmente etililzada. Avaliem vocês.

Xutos

Há uns tempos, lá no café apenso à junta de freguesia, fui convidado a participar numa jogatana de bola inter-freguesia: Santo Eustácio de Piolas FC contra a União Recreativa do Alto do Pina. Não que eu seja famoso pelos dotes dos toques, mas viram-me a levantar a imperial com a esquerda, e, como precisavam de um canhoto, fui seleccionado. Claro que fiquei orgulhoso, já me imaginava a dominar a lateral esquerda do campo e a centrar com uma precisão milimétrica para a cabeça do ponta-de-lança, bem como a fazer incursões devastadores pela defesa adversária, com remates indefensáveis ao canto superior direito. Mas rapidamente fui posto no meu lugar: a malta precisava mesmo é de um guarda-redes, e como eu era canhoto, saltava melhor para o lado que o adversário menos esperava, o que era uma vantagem nos penáltis, porque os outros não sabiam isso. "Bem", achei eu, "dos males o menor", já a imaginar intervenções dignas do Lev Yachin, todo esticadinho, com o rematador destroçado no chão. Até já tinha uma alcunha preparada: "A Raposa das Redes".
Chegado o grande dia da partida, que o jogo era em campo adversário, e tinhamos que lá ir de camioneta da freguesia, lá me equipei, e fui ter à junta. A camioneta era uma traquitana cancerosa a caír de podre, que devia ter presenciado as invasões francesas, mas a malta lá se instalou. O caminho foi uma alegre campanha; vinte quilómetros feitas a escorar o veículo: chegavamos a uma subida, e o condutor largava: "Toda a gente a sair, que o motor já não aguenta!" - tudo a empurrar, até lá acima. Lá chegados, era preciso agarrar na descida, que os travões também já tinham entregue a alma ao criador.
Uma hora depois, já bem aquecidos, lá chegamos ao campo da bola do Santo Eustácio de Piolas FC. "Campo" é uma força de expressão: era uma área de calhaus, à volta da qual estavam uns bancos de madeira. Instalei-me na baliza, depois de atribuidos os lados; ficamos a perder - tinhamos que jogar a subir na primeira parte o que acumulava com o facto de termos também de subir o morro a meio do terreno.
Em vez do clássico "É pró cú, é pró cú! Almofadas prá bola!" andavam uns putos a apregoar "Facas e canivetes pra depois do amigável!" - não me agradou.
Pouco depois, entrou a equipa adversária. Nada fora do vulgar, excepto o ponta-de-lança. Na ficha de jogo vinha descrito como sendo o "Tonhão".
O "Tonhão" usava longas tranças rasta, encimadas por uma boina de malha verde, amarela e encarnada, às riscas. Algures de debaixo das tranças vislumbrava-se um fumo a subir. O "Tonhão" adivinhava-se mulato, mas não era possível descobrir se por razões genéticas, se por razões higiénicas. Tinha um longo par de braços, que pareciam chegar-lhe aos joelhos, mas isso era devido à postura: as costas estavam tão dobradas, que parecia ter uma corcunda. Os braços do "Tonhão" eram um entrelaçado de músculos, que se adivinhava poderem abrir ostras com uma única flexão. Tinha uma Gina Lollobrigida tatuada no braço, e cada vez que o animal o flectia, ela descruzava as pernas. Já que estamos a falar em pernas, as pernas dele eram outro amontoado de músculos, torneados até ao tornozelo.
O "Tonhão" devia ter estatuto de estrela na equipa, porque era o único dispensado de utilizar o equipamento oficial do Sto. Eustácio (camisa às riscas lilás e verde, patrocínio de "J. Silva e Filhos, Lda - Torneiras e canalização - Se sai água, fomos nós", calção azul, meias pretas). Para ele, era uma camisa de mangas à cava, amarela, com uma folha de cânhamo verde à frente. Tinha a inscrição "Bring on da Weeeeed". O calção era de um tamanho indiscritível e, mal sabia eu, ainda iria ter um papel fundamental na partida. Não usava meias, e nos pés havaianas. Mas não eram duas. O "Tonhão" era a interpretação mais literal de "palmípede"; era uma havaiana para o dedão, e depois uma para cada dois dedos. O "Tonhão" a andar, aplanava à volta de um metro quadrado.
Logo de início, nos cumprimentos, o "Tonhão" esmigalhou-me a mão, enquanto grunhia, na voz mais bagaceira que eu já ouvira: "'cês vão perder!". O facto de o "Tonhão" me ter dirigido a palavra deu para vislumbrar o dente solitário na gengiva superior, mas só por um curto momento: o hálito fez com que o meu cérebro enviasse para as minhas pernas o comando de recuo rápido, que, por sua vez, fez com que eu levasse as redes da baliza por uns dez metros.
Após uma cuidada reanimação através da inalação de acetona, que teve o benefício de me imunizar ao odor, lá se voltou a prender a rede à baliza, e o imparcial deu o apito de arranque.
Um minuto depois, já estavamos a perder por 1-0: o "Tonhão" retirou a bola ao nosso médio de ataque, mantendo-o pregado à terra através de uma colocadíssima pisadela na cabeça, enquanto rematava com o outro pé. A bola deixo atrás de si um rasto de 45 metros de chulé queimado, enquanto eu ainda me atirei à bola, só para ser insultado pelo meu cérebro, que se sobrepôs ao seu dono ao mandar retirar os braços do caminho do míssil.
Quatro minutos depois, o 2-0. Logo de seguida o 3-0, bola que eu introduzi na minha baliza, por gentileza.
Meia hora depois, já o score ia nuns sólidos 34-1 (a minha alcunha, por estas alturas, já era "Raposa, o caralho"). O nosso único tento tinha sido marcado pelo nosso ponta-de-lança Zé "Fisgas", tendo o "Tonhão" abeirado-se dele prontamente, entalando-lhe a cabeça no sovaco. Teve que ser levado de maca, com a cabeça enroscada para trás e o olfacto destruído.
Dá-se início à segunda parte, com a placa de giz na cabeceira do campo a indicar 42-0 (o árbitro tinha decidido anular o golo, visto que o "Tonhão" lhe tinha explicado que tinha sido penálti contra nós) e connosco agora a jogarmos a favor do terreno. Eu instalo-me na baliza, já preocupado com o barulho: é que o campo tinha o tal morro a meio e não se via a outra metade. O problema disto, é que o "Tonhão" era calção tamanho 10, mas usava calção 16. E debaixo, era só natureza. Portanto, sempre que se iniciava um ataque, antes da visão, entrava em acção a audição, em crescendo: "chlép, chlép, chlép, chlép". Aquilo incomodava. Eu, num acto de loucura ainda lhe gritei: "Porra, pá! Põe uma fita cola, o qu'é que custa?!", mas ele não me ligou.
Bem, lá estava eu na baliza, e lá vem o bicho "chlép, chlép, chlép, chlép". Chega à entrada da grande área e leva um pé atrás. Por esta altura, eu já estou na bandeirola do canto, que se o cérebro não me deixa defender, quem sou eu. Já na expectativa de ouvir o embate das havaianas na bola, acontece o inesperado: a havaiana do dedão direito solta-se e "Tonhão" estatela-se ao comprido nos calhaus. Penálti!, foi o que o árbitro sentenciou, após ouvir os argumentos de ambos os lados: o "Tonhão" a argumentar que tinha sido colocado maldosamente um calhau na sua trajectória e o nosso capitão a dar-lhe razão, após ter sido obrigado a mastigar a havaiana em questão - ainda hoje, sabe-lhe tudo a borracha temperada a chulé.
O "Tonhão" avança para o lugar da marcação, enquanto eu perco todo o resto de bom-senso e o aviso: "Vá. Põe aí a chicha, que essa eu vou defender. Nem que seja a última coisa que faço. Coloca e chuta.", ao que o "Tonhão" replica "Marcareeeeei" o que me provoca um ligeiro acesso de desmaio, visto que o meu olfacto entretanto já estava em vias de recuperação.
Coloco-me na baliza, o "Tonhão" toma balanço até ao meio-campo e arranca: chlép, chlép, chlép, chlép... TUUUUUUUMMMMMM! Eu atiro-me à bola e agarro-a em pleno vôo, com ambas as mãos: a defesa perfeita, no canto superior direito!!
Quatro dias depois, sou encontrado num camião de entregas de melão, no atol de Mururoa.

Tuesday, 9 August 2005

Sons

Michael Bublé: "Feeling good", porque tem uma pinta do caraças.
The Motels: "Total Control", porque, à sua maneira, também tem uma pinta do caraças e porque me faz lembrar parzinhos de adolescentes durante a festa de anos de um deles.

Multiculturalismo

Fui almoçar (em Portugal) a um restaurante italiano, onde um empregado era brasileiro e o outro russo. Durante o almoço apareceram dois romenos a tocar música argentina num acordeão (que era alemão), que pediam para se colocar Euros numa lata de tomate pelado espanhol.
Acho que, pelo meio, e como quem não quer a coisa, até ouvi falar português.

Gatafunhos

Tão giro, como o horóscopo. E cuidadinho com os comentários, que um dos meus traços é a agressividade! O teste está aqui, e foi visto aqui.
A inclinação da sua letra mostra que você parece ser uma pessoa equilibrada, educada. Mas é um pouco “fria” com quem acaba de conhecer. A ligação da sua letra revela raciocínio lógico, dinamismo, método e uma tendência para rotinas. A direcção de sua letra indica controle, constância e organização, especialmente nas tarefas quotidianas. A pressão que usa ao escrever sinaliza estabilidade e equilíbrio. As áreas valorizadas na sua escrita destacam idealismo, erudição, preocupação com seu crescimento interior. A forma da sua letra demonstra firmeza, decisão, perseverança e agressividade.

Monday, 8 August 2005

Bobby and the Black Widow

Esta musiquinha, porque sim.

A estupidez

Einstein disse (após o lançamento das bombas atómicas sobre o Japão), que só duas coisas eram infinitas: o universo e a estupidez humana, mas que sobre a primeira tinha as suas dúvidas. Vem esta a propósito de uma notícia que li este fim-de-semana.
Em Londres, uma rapariga, que ia perder o avião, decidiu ligar a uma amiga, para esta telefonar ao aeroporto a avisar que havia uma bomba no dito. O raciocínio, era que teriam que parar o avião e revistar tudo, o que lhe daria tempo de sobra a ela. Após ter convencido a amiga, que não estava a brincar, esta procedeu ao recado: "Tenho uma amiga, que está quase a perder o avião, mas que manda dizer que há uma bomba neste." - foi maizoumenos assim.
Vão ser as duas julgadas. Com amigos assim...

Absolvição

Hoje fico liberto da promessa de colocar System of a Down nos "asteriscos sonoros" - ficam aqui as últimas duas, "Sad Statue" e "Lost in Hollywood". Continuam a aceitar-se sugestões para sons futuros.
O fim-de-semaninha, foi bom?

Friday, 5 August 2005

Segunda-feira...

...é outro dia. Um enormíssimo fim-de-semana para todos. Daqui a três dias voltamos a trocar letras.

Cento-e-tal anos

"(...)
- Pois eu tenho estudado muito o nosso amigo Gonçalo Mendes. E sabem vocês, sabe o Sr. Padre Soeiro, quem ele me lembra?
- Quem?
- Talvez se riam. Mas eu sustento a semelhança. Aquele todo de Gonçalo, a fraqueza, a doçura, a bondade, a imensa bondade, que notou o Sr. Padre Soeiro... Os fogachos e entusiamos, que acabam logo em fumo, e juntamente muita persistência, muito aferro quando se fila à sua ideia... A generosidade, o desleixo, a constante trapalhada nos negócios, e sentimentos de muita honra, uns escrúpulos, quase pueris, não é verdade?... A imaginação que o leva sempre a exagerar até à mentira, e ao mesmo tempo um espírito prático, sempre atento à realidade útil. A viveza, a facilidade em compreender, em apanhar... A esperança constante num milagre, no velho milagre de Ourique, que sanará todas as dificuldades... A vaidade, o gosto de se arrebitar, de luzir, e uma simplicidade tão grande, que dá na rua o braço a um mendigo... Um fundo de melancolia, apesar de tão palrador, tão sociável. A desconfiança terrível em si mesmo, que o acobarda, o encolhe, até que um dia se decide, e aparece um herói, que tudo arrasa... Até aquela antiguidade de raça, aqui pegada à sua velha Torre, há mil anos... Até agora aquele arranque para África... Assim todo completo, com o bem, com o mal, sabem vocês quem ele me lembra?
- Quem?
- Portugal.
(...)"
Eça de Queiroz
"A Ilustre Casa de Ramires"
É por esta e por outras, que, para mim, ainda está por nascer um escritor português melhor.

Eles ganham sempre

O banco no qual eu tinha um mealheiro, quando era puto, e ao qual todos os meses ia pôr uns tostões, é o mesmo ao qual, hoje em dia, devo um tomate de massa por causa da minha casa. Belo. Como é que eles fazem isto?

Promessas

Mais duas dos System of a Down - ficam a faltar duas, e depois juro que compenso a quem não goste.
Aliás: aceitam-se sugestões para colocações sonoras: mandem brasa!

Equilíbrio II

'tá quase! 'tá quase!!!!!!

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Praia!!! (III) ou Crónica de um Labrego Anunciado

Já visivelmente entusiasmado pelo facto de finalmente ter podido pôr a descoberto o seu novo slip "Speedo", comprado na Feira do Relógio (que, segundo ele, lhe dá um porte atlético), o Sr. Silva toma a iniciativa de montar o estaminé: o para-vento é colocado cientificamente, o que implica atirar sete mãos-cheias de areia para o ar ("porcaria de vento inconstante"), suscitando olhares penetrantes dos vizinhos (prontamente correspondidos), os chapéus de sol são enterrados recorrendo a extrema violência e abertos de modo a baterem no traseiro da Sra. Etelvina (que continua a despejar a caixa térmica, o que faz com que ela aterre de frente no areal) e na cabeça da Sra. Dona Felismina (que entretanto já se tinha conseguido sentar, e assim perde outra vez a dentadura), de seguida prende duas toalhas aos chapéus com as molas que vieram do camping ("providência é a mãe da caixa de porcelana", já dizia a mãezinha Silva), prende o rádio (sintonizado na onda média da Rádio Renascença, com o botão "Vol." orgulhosamente no "MAX" - exactamente como os vizinhos de praia) à estaca de um dos chapéus e retira a camisa "Fred Perry", disponibilizando ao mundo uma das visões mais aterradoras existentes numa praia: O sr. Silva, de slips vermelhos e panamá "Martini", dois tamanhos abaixo do necessário.
"Atão mulher? O comer? Olha que já marchava qualquer coisinha." - "Ó homem, tem lá calma... tome lá os seu dentes, mãezinha... toma lá uma sande de chóriço, para fazer a cama, enquanto eu acabo aqui." - "Ó minha sogra, passe-me lá uma "mine", que com este calor escorrega melhor e o chóriço é salgadito.".
Pouco tempo, quatro minis, cincos sandes variadas, seis croquetes e três pastéis de bacalhau depois (estes últimos já regados com tinto, que vai melhor com o "fiel amigo"), o Sr. Silva decide ir dar um passeio pela praia, "ver as vistas".
Isto é um exercício digno de um desportista, porque implica não só um passo firme e decidido à beira-mar, como a capacidade de encher o peito e assim o manter o máximo de tempo possível, outra das características só atingíveis por verdadeiros descendentes de Viriato (e por alguns selectos mergulhadores de pérolas no Pacífico, mas que, para tal, devem ter algum antepassado em comum com o Sr. Silva, de certeza).
O devaneio pela praia é acompanhado de interjeições, sempre que um fato de banho ou um biquini se aproxima ("Ééééééélááááá", "Tsctsctsc", assobiadelas, etc.), o que é um desafio não menosprezível à capacidade de manter, ao mesmo tempo, a caixa toráxica insuflada. Pelo meio, o Sr. Silva passa à proveniência todas e quaisquer bolas que se aproximem demais, através de um toquezito com o lado interior do pé, "qu'é comó Simão".
Após meia hora, resolve voltar para trás, que já está a ficar tarde, e é preciso contar com 45 minutos para desmontar tudo e encaixar na viatura familiar.
Aproximando-se do poiso Silva, depara-se-lhe a visão do Zé Francisco a brincar num elaboradíssimo forte de areia, com ponte levadiça e canhões ("Parece que ainda vai ao sítio, o cabrão do puto"), o Zé Leonardo continua deitado de barriga para baixo, as costas a parecerem um anúncio da Vodafone, virado com a cabeça adornada com os "fones" para algures que lhe absorve a atenção toda, a Sra. Etelvina, de fato de banho preto, sentada na sua toalha verde e amarela com um tucano poisado num galho e a sogra sentada à sombra, toda vestida, também de preto (roupa que não abandona desde que lhe faleceu o Zé Manel, há 25 anos) com um lenço branco sobre a cabeça.
Decide mandar para as urtigas o levantamento do forte, e dirige-se para a beira-mar, onde fica parado, de perna aberta e braços atrás das costas, a ver o sol a desaparecer.
Vagarosamente (que de outra maneira já não é possível), a Sra. Etelvina ergue-se e aproxima-se do seu marido. "Então, homem, como é que foi o passeio? Está tudo bem?" - ele vira-se para ela, faz um ligeiro sorriso e diz-lhe, baixa-voz: "Não foi nada de especial. Está tudo perfeito. Tudo perfeito."; dão as mãos, e, naquele curto momento, virados de costas para o dia-a-dia e de frente para o início do crepúsculo, chegam os dois à conclusão que estão mesmo bem um para o outro.

FIM

Crónica de um Labrego Anunciado

Obrigado pelo título.
Serve esta posta para avisar, que já existe um fim para a saga dos Silvas, e que acho que vai surpreender (modéstia à parte) - surpreendeu-me a mim! Não vale ir lê-lo primeiro! Imiscuiu-se hoje de manhã, quando eu vinha a caminho do trabalho.

Thursday, 4 August 2005

Balzakiana

Só reparei agora, que nos comentários à ida para a praia dos Silvas, te ignorei, ignobilmente. Foi sem querer, e, para ver se isto me é perdoado, fica uma resposta em destaque:
Ainda bem que gostaste; dá gozo escrever estes disparates, mas dá ainda mais gozo receber as vossas respostas. Obrigado.
Sobre a avaliação das histórias, não imagino o peso, mas que me quer parecer que vocês davam todos umas balanças do caraças, lá isso... Pelo menos parece que se enganam sempre a meu favor!
De resto: a GNR tem que ir buscar o subsídio de férias a algum lado, que isto não está fácil!
Mais uma vez, desculpa lá a falha.

Sistema de uma depressão

Nos sons, agora exclusivamente System of a Down. Os ouvidos mais sensíveis que me perdoem, mas promessas são promessas.
Também prometo compensar, passada esta fase.

Wednesday, 3 August 2005

Praia!!! (II)

"Ora, ora! Se não é o senhor Alberto Silva! Bom dia. Isto vai outra vez um pouco pró carregadito, hã?" - "Ó seu guarda vamos fazer uma praiazita, sabe como é..." - "Pois, pois. Sopre mazé aqui no balão, qu'é pra vermos se ao menos desta vez não bate um record... força, força, força... OK. Pode parar... Ó Antunes! 'tá outra vez pifo!" - "Olhe, ó seu guarda, isso não é possível, qu'eu desta vez nem bebi nada!" - "Bem, se insistir, podemos ir ali à esquadra medir na máquina..." - "Oh, não isso não é preciso! Tenho a certeza que conseguimos resolver isto como gente cili... citri... civilizada! Tem aqui os meus papéizitos. Acho que me esqueci duma coisa lá pelo meio...".Uma piscadela de olho, dez minutos, mais uma multa e menos cinco Euros depois, o AX põe-se outra vez em marcha, mas para fazer uma inversão. "Atão, mulher!! Esquecestes-te das sandes de chóriço? E o meu garrafão de Colheita d'Oiro? 'tás parva? E o que é que eu bebo a meio do caminho, qu'isto 'tá um calor que parece África?!".
Recolhidas as preciosas iguarias, e depois de um trago mais profundo do garrafão "para ver se isto não 'tá avinagrado", lá segue a família Silva, de novo a caminho do maná das praias.
Uma hora, a segunda multa, e menos dez Euros depois, o AX, mais ofegante do que o Rocinante do Dom Quixote, chega ao início do tabuleiro da ponte. O sol já vai a pique, e o odor no interior do veículo começa a fazer das suas, que o chefe de família recusa-se a abrir as janelas: "Isto liga-se a chófage e fecha-se as janelas, que fica fresquinho. Ao preço da gasolina, não se pode abrir, que gasta mais!". Manda uma guinada no volante para a esquerda, que é para enfiar na faixa correcta - "andar à direita é prás mulheres e prós maricas! 'tás a ouvir, ó Zé Chico?! Nada de esquisitices! Raio do miúdo..." -, o que provoca imediatamente um coro de protestos de todas as viaturas capazes de andar a mais de 8 km/h, dando origem à célebre máxima do automobilismo luso: "'tás com pressa?! Passa por cima!".
Chegados ao fim da ponte, chegou a altura de encostar à berma, que a fome já aperta, o que é saudado pela maioria dos utentes da ponte com vários desabafos mais ou menos rudes, também prontamente replicados pelo Sr. Silva com "Vai ver se 'tou em cima da tua mulher!". Enquanto isso, a dona Etelvina prepara o repasto, acorda a mãezinha, que com o calor já vai meia desfalecida no banco de trás, ajuda a encontrar a dentadura da senhora (que num ligeiro desmaio lhe tinha caído) e manda duas chapadas à prole, para se virem sentar na manta.
Após ter aniquilado metade da ração familiar para o dia, e já visivelmente mais satisfeito, o Sr. Silva levanta-se, procedendo às já habituais verificações de segurança da viatura ("Uma pinta estes Mábores. E só 60 Orós!"). A sogra ainda não se recompôs da violência anterior, mas é convidada ("Toca a entrar!! Raio da velha....") a sentar-se no banco de trás, que é preciso reinstalar a tralha toda.
Já tudo nos seus lugares, reinicia-se a viagem para o paraíso arenoso, desta vez já ao som do "A seguir entra Agosto" do Quim Barreiros, que o Sr. Silva comprou na vinda para o Camping na Praça de Espanha - "Isto é que é música popular como deve ser! A voz do povo!" - enquanto que o Zé Leonardo instala no Walkman a cassete com "As aventuras do Zé Montanelas", que conseguiu fanar no mesmo sítio, o que, a seu tempo, provoca uma elevação involuntária da espreguiçadeira que vai ao seu colo.
Chegados à Charneca da Caparica, chegou a altura de encostar de novo à berma, que um dos "Mábores" desistiu da sua presença terrena. Isto obriga o Sr. Silva a retirar tudo da mala, para poder chegar ao macaco e ao pneu sobresselente. "Qualquer merda estrangeira nem tinha chegado à Ponte! Só 60 Orós!". Reposto o equilíbro pneumático do bólide ("Anda cá, puto, qu'eu vou-te mostrar como é que se faz um trabalho de homem."), re-espreme-se o conteúdo para dentro da mala, e siga para bingo.
Meia hora depois, já com o carro estacionado de modo a tornar impossível a circulação em dois sentidos ("Caraças de sorte, ter encontrado este lugar!"), dá-se início ao transbordo dos essenciais. A Sra. Dona Felismina é encarregue de transportar o grosso do material, visto que o chefe de família decidiu que "a velhota tem que fazer alguma coisa".
Às 14.36, em ponto, a família Silva chega à praia e instala-se no espaço arenoso mais próximo de outras três famílias. A Dona Etelvina prepara o "lanchinho", o Sr. Silva distribui uns carolos, "qu'é prós putos não amolecerem", a Sra. Dona Felismina colapsa inanimada no areal e os dois rebentos, em fuga da atenção paternal vão à sua vida: o mais velho à procura de "uma gaja em trócléss" e o mais novo vai fazer um forte para o Action Man que lá conseguiu trazer à socapa.
Tremei, Costa da Caparica.

Eu detesto blogs

É que eles são mesmo bons. Um tipo acha que faz aqui umas coisas janotas, mas sempre que vai um pouco de viagem, volta reduzido a pó. São todos os maiores.

Que prático

Que prático que é ter um colega que conhece um GNR, que, em dois minutos até descobriu que a carrinha que me escangalhou o pára-lamas do meu bólide tem quatro registos. Sei tudo, tudinho. Alguém, por acaso, mora pelas bandas de Atiba, Estoril? É que se sim, tenho aqui uma morada dum camelo que está a precisar urgentemente dumas rótulas dos joelhos novas. ...'tás tão fodido!!!!!

Acentos

A pedido, o barulho de hoje, é-o mesmo. Tinha prometido, e entretanto meteram-se-me umas glândulas pelo meio; desculpa lá.

Equilíbrio

'tou quase lá:

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Por indicação daqui

Tuesday, 2 August 2005

F...

Volta e meia, sinto-me responsável pelo bem-estar da comunidade.

Sabrina


E esta foi culpa dela.

Safantha Mox


A culpa não é minha, ela provocou-me.

Monday, 1 August 2005

Bomba


Entra pelo ouvidinho, e desce por aí abaixo até partir os joelhinhos. Pelo meio faz outros estragos e arrisca-se a ser uma das minhas cinco compras do ano.
"You and me
We'll all go down in history
With a sad Statue of Liberty
And a generation that didn´t agree"
System of a Down - "Sad Statue"

Praia!!! (I)

Após semana-e-meia no camping de Monsanto, eis que chegou o dia de os Silvas irem à praia. Este foi o tempo necessário para ficar tudo instalado, como deve de ser, na roulotte Silva. Trata-se de um exercício de enorme complexidade, tendo em conta a logística de encaixar todos os haveres do T3 da Pichleira no T0+1 que é a morada provisória de Verão. Sobretudo porque há quinze anos, quando o Sr. Silva lá conseguiu o espacinho devido ao falecimento do ocupante anterior, ainda não existiam os fedelhos. E entretanto inventou-se o micro-ondas, o DVD, o Ab-Flex e as borboletas electrónicas que fazem ganhar um corpo de Adónis enquanto se aspira (se bem que, no caso da Sra. Silva, foi mais um corpo de Baco). Depois, e para mal dos pecados do chefe da família, já não se pode recambiar a velhota para uma tenda, por causa do reumático. Além do mais, a re-instalação da cerca à volta do avançado também implicou uma ida ao AKI (ALI ao lado, curiosamente), o que, tendo em conta o estado do veículo familiar, foi empreitada para um dia.
No entanto, lá chegou o dia. Fatídico, segundo a população da praia a ser assaltada.
Após aturada investigação do mais recente mapa das estradas de Portugal, o Sr. Silva chega à conclusão que o melhor sítio é a costa da Caparica (tal como nos últimos 15 anos, de resto). As opiniões divergem; a dilecta sogra queixa-se que a costa "tem pouco iodo", a esposa acha que é longe, o Zé Francisco pergunta se pode levar os "ácxun-méns", o Zé Leonardo até acha bem, que a "gaja da tenda do lado também lá vai". O Sr. Silva resolve a disputa, ao mandar a sogra "tomar um banho em mercurócrómio, já que quer iodo", a Sra. Etelvina é avisada que se quiser pode ir a pé para a praia que quiser, o "mai' novo" leva outra dose de calduços, "que 'tá a ficar todo amaricado, o larilas" e, como ainda sobram uns, o mais velho também leva a sua dose, que "eu bem te vi outro dia a espiar a senhora, de noite, quando ela tinha a luz da tenda acesa". Arrumado este assunto, e ficando por explicar o que é que o Sr. Silva fazia na rua à hora do SLB - Baixa-da-Banheirense União e FC (3-4, após penaltis), começa o carregamento da mula da cooperativa.
Após instalados os familiares no banco de trás, são-lhes aplicados as três cadeiras, uma espreguiçadeira, um chapéu de sol Lipton Ice Tea, outro da TV Cabo, o saco das molas (que são para pendurar toalhas do bordo dos chapéus de sol, para potenciar a sombra), o corta-vento e o rádio. Claro que, para poupar espaço, cada um usa a sua toalha como forro do banco.
Na mala instala-se o farnel, que já vinha sendo preparado desde o dia anterior pela Sra. Felismina ("Ainda serve pr'álguma coisa o raio da velha...") e a sua filha: sandes de sardinha, de presunto e de ovo mexido, pastéis de bacalhau (tem de ser!), croquetes, enfim, tudo o que uma família típica precisa para o caso de ser apanhada no Sahara durante o holocausto nuclear. Mais, claro, uma dúzia de "minis", uma garrafa de Luso com sumo de laranja (Tang) e uma lata de Red Bull, que o Zé Léo "anda armado ao pingarelho, o parvo do miúdo".
Junta-se a isto a bola (oficial, do Euro 2004, comprada na Praça de Espanha) e o colchão de ar. Que é miraculosamente espremido para a mala cheio, que na praia não dá jeito enchê-lo.
No tejadilho vai o barco de borracha, também insuflado, preso com cordas que são guiadas ao interior do carro através das janelas abertas, e cada um tem de segurar uma ponta. Pelo meio, o Sr. Silva ainda oferece uma boleia à menina da tenda do lado, "mas olhe que vai ter que vir ao meu colo!". A recusa é interpretada como "'tá se a fazer difícil, a gaja". A Sra. Etelvina também não acha graça à coisa, mas é, por sua vez, interpretada como "uma histérica".
E assim se põe a caminho a família Silva, destino à Costa da Caparica, via Ponte 25 de Abril. Não sem antes o Sr. Silva ter ido à casa de banho, que os preparativos obrigaram-no a dar cabo de um quarto do espólio de "minis". E a passar pelo supermercado do camping, comprar mais uma dúzia "não vá o diabo tecê-las".
Na curva à esquerda, está a GNR.

Entretantos

Cá estou de volta. Foi uma semaninha bem aproveitada, deitando por terra o mito do tamanho.
Enquanto fica uma posta no forno, à espera de estar bem passada, aqui ficam duas de ir às lágrimas. Gosto especialmente da do John Cale. Um dos episódios mais "quentes" da Bíblia (AT, claro).


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